20 cidades concentram 40% de todos os celulares roubados ou furtados no Brasil

Por Por Aiuri Rebello/Gazeta do Povo - em 2 dias atrás 5

À primeira vista, seria difícil encontrar muitos pontos em comum entre cidades tão díspares entre si quanto São Paulo (SP), Lauro de Freitas (BA), Ananindeua (PA), Cariacica (ES) e Timon (MA). Unidas por uma estatística infeliz, no entanto, todas aparecem juntas em uma lista infame: junto com outros 15 municípios, fazem parte do ranking das 20 cidades onde mais acontecem roubos e furtos de celulares no Brasil.

Essas 20 cidades foram responsáveis pelo registro de 40% de todos os casos de roubos e furtos de aparelhos de telefone celular no país em 2024. É o que revelam dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2025, produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública com dados do ano passado.

Na proporção para cada 100 mil habitantes — maneira mais apropriada estatisticamente para comparar incidências numéricas absolutas sobre populações diferentes — o ranking é liderado pela capital do Maranhão, São Luís, com uma taxa de 1.599,7 celulares roubados ou furtados para cada 100 mil habitantes. Em segundo lugar vem a capital do Pará, Belém, com 1.452,2 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes. São Paulo fecha o pódio em terceiro lugar, com uma taxa de 1.425,4 celulares subtraídos para cada 100 mil habitantes.

Sempre na proporção por 100 habitantes, na sequência aparecem:

Salvador (BA): 1.396,7

Lauro de Freitas (BA): 1.392

Porto Velho (RO): 1.363,1

Timon (MA):1.335

Olinda (PE): 1.155,7

Teresina (PI): 1.154,6

Recife (PE): 1.113,9

Cariacica (ES): 1.088,5

Ananindeua (PA): 1.077,5

Vitória (ES): 1.027,1

Natal (RN): 1.019,9

Praia Grande (SP): 998,7

Passo do Lumiar (MA): 990,8

Belo Horizonte (MG): 943,9

Florianópolis (SC): 923,4

Marituba (PA): 911,8

Fortaleza (CE): 907,2

O município de São Paulo, por exemplo, concentra 5,6% da população brasileira, mas responde por 18,5% dos celulares roubados e furtados no país. Ou seja, praticamente um quinto de todos os aparelhos celulares furtados e roubados se dá desproporcionalmente na capital paulista.

Salvador, por sua vez, possui 1,2% da população nacional, mas concentra 3,9% dos roubos e furtos de celular. Da lista, apenas as 12 capitais são municípios de grande porte, com mais de 500 mil habitantes.

Em números absolutos, houve queda de 12,6% no número de celulares furtados ou roubados em 2024 — no Piauí, a queda foi de 29,7%. O estado é pioneiro na implementação de um programa de recuperação e alerta de aparelhos roubados ou furtados.

Ainda assim, quase um milhão de celulares são levados por bandidos por ano. Ao todo, 850.804 celulares foram subtraídos no Brasil no ano passado. Em 2023, foram 969.197 aparelhos. Enquanto em 2018 os registros de furtos representavam 43,7% do total de casos notificados, em 2023 e em 2024, essa proporção foi, respectivamente, de 53% e 56%.

Em contrapartida, apenas cerca de 8% dos aparelhos celulares roubados conseguem ser recuperados pelas forças policiais e de segurança pública, na média nacional. Segundo análise do Fórum de Segurança Pública no relatório deste ano, o dado indica que ainda há um longo processo de integração de procedimentos e sistemas para que tais dispositivos consigam ser, efetivamente, devolvidos aos seus proprietários, incluindo a integração de bases com operadoras, Anatel e outros órgãos públicos que não apenas aqueles do sistema de segurança pública.

Jorge Talarico Junior, advogado criminalista especialista em segurança pública, chama a atenção para a dinâmica bem estruturada e organizada da indústria do roubo e furto de celulares. “Após a subtração, o primeiro passo é a tentativa de golpes, fraudes e saques com as informações da vítima no próprio aparelho”, afirma.

“Uma vez superada essa etapa, esses celulares seguem para o caminho de serem formatados para revenda ou, se isso não for possível, dependendo do celular, desmontados para terem suas peças vendidas por baixo valor. Cada uma dessas etapas geralmente é feita por grupos diferentes que se associam nessa indústria criminosa. Além do mercado nacional, esses celulares vão muito para fora do país, principalmente África e Ásia”, diz Talarico Junior.

Quantidade de celulares roubados é situação fora do controle, diz especialista

“Em 2024 houve uma queda quase que geral dos índices de criminalidade, de acordo com o relatório, incluindo a questão dos celulares”, afirma Fernando Capano, especialista em Direito Militar e segurança pública. “Mas se olharmos os números em si, os roubos e furtos de celulares continuam em patamar altíssimo. Quase um milhão de aparelhos subtraídos por ano é uma situação fora de controle que, apesar da queda, se perpetua pelo menos desde 2018, de acordo com a série histórica”.

Do ponto de vista da ação das forças de segurança pública, ele cobra mais ações de investigação policial que mapeiam e vão atrás dos locais de receptação, para onde estes celulares estão sendo enviados. “Agindo com força sobre a receptação, tira-se o estímulo maior para o roubo e o furto”, avalia Capano

“Temos a perspectiva de que a queda desses índices continue com a chegada de novas possibilidades técnicas, como o rastreio e bloqueio imediato dos celulares roubados por parte da polícia de forma sistemática”, diz o especialista. “A iniciativa do aplicativo do Celular Seguro, que nasce no âmbito estadual e está sendo encampada pelo governo federal, é muito importante para avançar nesse sentido.”

“Admitir que tenhamos ainda quase 1 milhão de celulares roubados ou furtados por ano junto com a explosão dos estelionatos virtuais, que são outra face do mesmo problema da digitalização da criminalidade, é uma admissão de derrota do sistema de segurança pública como um todo”, avalia Capano. “Precisamos de mais investimento, tecnologia, inteligência e sinergia entre as polícias de diferentes estados para chegar de fato a números minimamente aceitáveis”, cobra ele.

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