PMDB pode abandonar PT e apoio a Dilma em vários estados
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A quatro meses da convenção nacional que deve sacramentar a aliança do PMDB com o PT para a reeleição da presidente Dilma Rousseff, a relação entre os dois partidos enfrenta problemas em dois terços das 27 unidades da federação. Em alguns casos, como em Pernambuco, Bahia e Acre, o rompimento já vem de longa data e não causa surpresa. O problema é a profusão de estados em que os peemedebistas veem seu futuro em risco pela dita “ganância” do PT. A maioria dos dirigentes do PMDB ainda considera improvável que a aliança nacional não se confirme, mas mesmo os mais próximos aliados de Dilma já consideram possível que boa parte dos candidatos do partido nos estados abandonem a campanha da presidente.
O caso do Rio é exemplar. Após sete anos de aliança, PMDB e PT estão em guerra aberta e a direção peemedebista estadual trabalha para que prefeitos e deputados do partido não auxiliem na campanha de Dilma. Esse cenário corre o risco de se repetir nos outros estados onde os dois partidos se enfrentarão, como no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Piauí. Em São Paulo também haverá disputa entre os dois partidos, mas tanto Paulo Skaf (PMDB) quanto Alexandre Padilha (PT) têm o partido do tucano Geraldo Alckmin como alvo.
Diante da crise, o vice-presidente Michel Temer, num gesto exagerado, chegou a afirmar no twitter há duas semanas que caso a maioria dos diretórios estaduais do PMDB não seja contemplada pela aliança sua indicação à vice pode ser abandonada:
— Para mim, isso (o partido) está acima de projeto pessoal (a vice) e farei todo esforço para manter a aliança, mas o que o partido decidir, eu acato.
Líder dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff por quase seis anos, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) considera improvável um rompimento na aliança nacional, mas destaca que não basta ter esse compromisso para o sucesso da reeleição de Dilma. É preciso engajamento.
— Na maioria dos estados vai haver disputa regional, mas esperamos que num clima de aliança nacional. A situação de 2014 é mais complexa que em 2010, e isso requer mais atenção. Vai ser preciso mais tolerância, os palanques regionais vão estar mais conturbados, o clima mais nervoso e a eleição é mais difícil. Então todo cuidado é pouco. É preciso haver uma hecatombe de coordenação politica para haver risco para a aliança. Mas ter a aliança é só a primeira etapa, ter todo mundo engajado é a segunda etapa. A aliança por si só não ganha eleição — explica.
Concretamente, o risco para a aliança nacional depende da solução que será dada a estados-chave na convenção nacional, como Minas Gerais, o Ceará e Maranhão. No primeiro, as dificuldades internas são maiores que as externas, mas nos dois últimos não. O senador Eunício Oliveira (PMDB), pré-candidato ao governo do Ceará, exige que a presidente Dilma Rousseff dê tratamento igual à sua campanha e a do candidato apontado pelo governador Cid Gomes. A presidente, no entanto, já deixou claro a vários interlocutores que tem um compromisso com Cid, que abandonou o PSB de Eduardo Campos para apoiar a reeleição da petista.
No Maranhão, a família Sarney deseja que os petistas apoiem seu candidato à sucessão da governadora Roseana Sarney, mas o PT reluta. Boa parte do partido deseja apoiar o arquirrival do grupo, Flávio Dino (PCdoB), e encontrou na hipótese de ter uma candidatura própria a alternativa para diminuir a crise com o PMDB. Pouco adiantou. Os Sarney continuam querendo apoio integral a seu grupo político.
Em vários estados onde o cenário era alvissareiro, o caldo começou a entornar com a proximidade das eleições. Há um temor crescente dentro do PMDB em relação à postura que a presidente Dilma e o ex-presidente Lula tomarão durante a campanha. Os peemedebistas não se esquecem da disputa de 2010 na Bahia, onde o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) havia acertado um acordo pelo qual a então candidata Dilma se comprometera em não privilegiar nenhum candidato da base, mas conforme a disputa avançou acabou mergulhando na campanha à reeleição do governador Jaques Wagner (PT) e abandonou Geddel.
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM), vem trabalhando para minimizar a crise, mas considera importante as direções nacionais dos dois partidos retomarem o quanto antes o diálogo para estabelecer acordos.
— Tem problema em mais da metade dos estados. Isso vai se definir em junho, nesse período é natural que as pessoas coloquem suas pretensões. Quando você tem disputas, é preciso ter paciência, diálogo, habilidade. O PT e o PMDB precisam sentar novamente. Nós estávamos conversando no ano passado com o Rui Falcão mas houve eleição interna do PT e as conversas pararam. Está na hora de retomarmos — alerta Braga.
Redução da bancada agrava problema
Em alguns dos estados mais populosos, a aliança encontra mais um percalço: as divisões internas do próprio PMDB. Em Minas, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e até no Tocantins grupos diferentes da sigla estão divididos entre três possibilidades: lançarem candidatos próprios; apoiarem candidatos que farão palanques de oposição a Dilma; ou apoiar palanques de sustentação à presidente.
Em meio a série de disputas, a decisão de Dilma de reduzir o número de ministérios a que a bancada da Câmara teria direito só agravou a situação. O líder do partido na Casa, Eduardo Cunha, conseguiu apoio massivo para radicalizar contra o governo nas votações. Já incomodado com o rompimento no Rio, o deputado passou a catalizar os grupos insatisfeitos do partido. No encontro que sacramentou a decisão de não indicar novos ministros, houve um rosário de reclamações contra o PT. O deputado Danilo Fortes (PMDB-CE) foi um deles:
— O PT tem um projeto hegemônico. Seu objetivo é ser semelhante ao PRI no México, que aglutinou toda a força política do país. O PMDB, que é formado por lideranças regionais, só se viabiliza se tiver palanques locais. O partido não pode se omitir, se não acaba. Percebemos agora que, ou reagimos ou vamos ser estraçalhados, e isso está contaminando o país inteiro.
O caso do Rio é exemplar. Após sete anos de aliança, PMDB e PT estão em guerra aberta e a direção peemedebista estadual trabalha para que prefeitos e deputados do partido não auxiliem na campanha de Dilma. Esse cenário corre o risco de se repetir nos outros estados onde os dois partidos se enfrentarão, como no Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul e Piauí. Em São Paulo também haverá disputa entre os dois partidos, mas tanto Paulo Skaf (PMDB) quanto Alexandre Padilha (PT) têm o partido do tucano Geraldo Alckmin como alvo.
Diante da crise, o vice-presidente Michel Temer, num gesto exagerado, chegou a afirmar no twitter há duas semanas que caso a maioria dos diretórios estaduais do PMDB não seja contemplada pela aliança sua indicação à vice pode ser abandonada:
— Para mim, isso (o partido) está acima de projeto pessoal (a vice) e farei todo esforço para manter a aliança, mas o que o partido decidir, eu acato.
Líder dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff por quase seis anos, o senador Romero Jucá (PMDB-RR) considera improvável um rompimento na aliança nacional, mas destaca que não basta ter esse compromisso para o sucesso da reeleição de Dilma. É preciso engajamento.
— Na maioria dos estados vai haver disputa regional, mas esperamos que num clima de aliança nacional. A situação de 2014 é mais complexa que em 2010, e isso requer mais atenção. Vai ser preciso mais tolerância, os palanques regionais vão estar mais conturbados, o clima mais nervoso e a eleição é mais difícil. Então todo cuidado é pouco. É preciso haver uma hecatombe de coordenação politica para haver risco para a aliança. Mas ter a aliança é só a primeira etapa, ter todo mundo engajado é a segunda etapa. A aliança por si só não ganha eleição — explica.
Concretamente, o risco para a aliança nacional depende da solução que será dada a estados-chave na convenção nacional, como Minas Gerais, o Ceará e Maranhão. No primeiro, as dificuldades internas são maiores que as externas, mas nos dois últimos não. O senador Eunício Oliveira (PMDB), pré-candidato ao governo do Ceará, exige que a presidente Dilma Rousseff dê tratamento igual à sua campanha e a do candidato apontado pelo governador Cid Gomes. A presidente, no entanto, já deixou claro a vários interlocutores que tem um compromisso com Cid, que abandonou o PSB de Eduardo Campos para apoiar a reeleição da petista.
No Maranhão, a família Sarney deseja que os petistas apoiem seu candidato à sucessão da governadora Roseana Sarney, mas o PT reluta. Boa parte do partido deseja apoiar o arquirrival do grupo, Flávio Dino (PCdoB), e encontrou na hipótese de ter uma candidatura própria a alternativa para diminuir a crise com o PMDB. Pouco adiantou. Os Sarney continuam querendo apoio integral a seu grupo político.
Em vários estados onde o cenário era alvissareiro, o caldo começou a entornar com a proximidade das eleições. Há um temor crescente dentro do PMDB em relação à postura que a presidente Dilma e o ex-presidente Lula tomarão durante a campanha. Os peemedebistas não se esquecem da disputa de 2010 na Bahia, onde o ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB) havia acertado um acordo pelo qual a então candidata Dilma se comprometera em não privilegiar nenhum candidato da base, mas conforme a disputa avançou acabou mergulhando na campanha à reeleição do governador Jaques Wagner (PT) e abandonou Geddel.
O líder do governo no Senado, Eduardo Braga (AM), vem trabalhando para minimizar a crise, mas considera importante as direções nacionais dos dois partidos retomarem o quanto antes o diálogo para estabelecer acordos.
— Tem problema em mais da metade dos estados. Isso vai se definir em junho, nesse período é natural que as pessoas coloquem suas pretensões. Quando você tem disputas, é preciso ter paciência, diálogo, habilidade. O PT e o PMDB precisam sentar novamente. Nós estávamos conversando no ano passado com o Rui Falcão mas houve eleição interna do PT e as conversas pararam. Está na hora de retomarmos — alerta Braga.
Redução da bancada agrava problema
Em alguns dos estados mais populosos, a aliança encontra mais um percalço: as divisões internas do próprio PMDB. Em Minas, Paraná, Rio Grande do Sul, Goiás e até no Tocantins grupos diferentes da sigla estão divididos entre três possibilidades: lançarem candidatos próprios; apoiarem candidatos que farão palanques de oposição a Dilma; ou apoiar palanques de sustentação à presidente.
Em meio a série de disputas, a decisão de Dilma de reduzir o número de ministérios a que a bancada da Câmara teria direito só agravou a situação. O líder do partido na Casa, Eduardo Cunha, conseguiu apoio massivo para radicalizar contra o governo nas votações. Já incomodado com o rompimento no Rio, o deputado passou a catalizar os grupos insatisfeitos do partido. No encontro que sacramentou a decisão de não indicar novos ministros, houve um rosário de reclamações contra o PT. O deputado Danilo Fortes (PMDB-CE) foi um deles:
— O PT tem um projeto hegemônico. Seu objetivo é ser semelhante ao PRI no México, que aglutinou toda a força política do país. O PMDB, que é formado por lideranças regionais, só se viabiliza se tiver palanques locais. O partido não pode se omitir, se não acaba. Percebemos agora que, ou reagimos ou vamos ser estraçalhados, e isso está contaminando o país inteiro.
Fonte: oglobo.com