Sob chuva, Rio lava a alma e dá adeus à Olimpíada que vai deixar saudade
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Festa de encerramento tem muito carnaval no Maracanã (Foto: REUTERS / Fabrizio Bensch)
Saudade. A palavra solitária que só na língua portuguesa consegue representar vários sentimentos deu o tom da despedida. Os Jogos Olímpicos do Rio prometem mesmo deixar saudade – até para quem não sabe exatamente seu significado. Debaixo de chuva no Maracanã, o país lavou a alma e celebrou na noite deste domingo o fim e o começo de um novo tempo. Foram 17 dias inesquecíveis da primeira edição disputada na América do Sul e que terminou do jeito que o brasileiro gosta e sabe fazer: com festa, emoção, alegria e muito samba.
Devagarinho, Martinho da Vila pediu licença para apresentar ao mundo os grandes maestros da música popular brasileira. Pixinguinha e o seu “Carinhoso”, Braguinha e Noel Rosa foram homenageados pelo intérprete e compositor de Vila Isabel, que levou suas três filhas e uma neta, para ajudá-lo a contar e cantar um pouco o samba e o choro brasileiros. O momento dedicado à música terminou com um emocionante coro de 27 crianças – representando os 26 estados e o Distrito Federal – cantando o Hino Nacional do Brasil. A bandeira do país entrou no Maracanã nas mãos da ex-tenista brasileira Maria Esther Bueno.
A FESTA DOS ATLETAS
De Noel Rosa para Carmen Miranda. A famosa cantora e atriz que abriu portas para o Brasil no mundo, desta vez, foi representada pela cantora Roberta Sá, abrindo alas para a entrada das 207 delegações dos Jogos Olímpicos do Rio. O desfile dos atletas seguiu com mais música brasileira. O tradicional ritmo frevo foi apresentado. Também teve samba. Teve forró. E sobrou alegria na festa de quem deu o espetáculo nos últimos 17 dias.
Com a Bandeira do Brasil nas mãos, Isaquias Queiroz, o canoísta que conquistou três medalhas na competição, representou a alegria dos 462 atletas brasileiros que tiveram a chance de defender o país em casa. Nesta altura, o gramado do Maracanã já tinha virado pista de dança. Criações de artistas brasileiros ganharam forma no centro do estádio, em seguida. Pinturas desde o tempo dos primeiros habitantes até os dias de hoje foram representadas. A cultura indígena tão marcante nas origens brasileiras foi lembrada com desenhos geométricos.
PARA DEIXAR SAUDADE
Arnaldo Antunes pediu licença para falar de saudade. O escritor, compositor e cantor recitou um poema que tem como tema a palavra famosa por só na língua brasileira definir de forma resumida vários sentimentos. Projeções de traduções em diversos idiomas para “saudade” foram lançadas pelo estádio. Em seguida, veio uma homenagem à arte manual das mulheres rendeiras, com a participação do grupo “Ganhadeiras de Itapuã”, destacando a contribuição da cultura negra na formação do Brasil. A renda saiu de cena e entrou a argila. Era a vez de Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”, e sua “Asa Branca” serem lembrados.
Um vídeo com cenas marcantes e emocionantes dos Jogos Rio 2016 foi exibido e serviu de introdução para a última premiação da competição, na entrega de medalhas da tradicional prova da maratona. Em seguida, grandes nomes do esporte, como a russa Yelena Isinbayeva, foram anunciados como novos membros da Comissão de Atletas do Comitê Olímpico Internacional (COI). Os voluntários, que se espalharam e se desdobraram em vários cantos da cidade nos últimos 17 dias, se uniram no centro do Maracanã e também foram homenageados, enquanto Lenine embalava o bonito momento. Era uma das últimas cenas olímpicas do Rio de Janeiro. Não demorou muito para o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, devolver a bandeira olímpica para o COI, em meio a algumas vaias e aplausos do público. O símbolo foi entregue em seguida a Tóquio, o palco da edição de 2020.
O cartão de visitas dos japoneses para a próxima Olimpíada teve como destaques a palavra “Arigato” (obrigado, em português), que foi projetada em várias línguas durante a breve apresentação, e a tradição dos games japoneses. Reforçando os conceitos de “diversidade e harmonia “, Tóquio apresentou a intenção de incentivar a aceitação apesar das diferenças culturais dos povos. Para encerrar, uma queima de fogos.
O presidente do Comitê Rio 2016, Carlos Arthur Nuzman, e do COI, Thomas Bach, fizeram seus discursos de encerramento. Estava na hora de o Rio se despedir para valer. As obras do paisagista brasileiro Roberto Burle Marx foram lembradas com novos desenhos no gramado. Em em seguida, uma chuva artificial apagou o fogo da pira olímpica, enquanto Mariane de Castro cantava “Chovendo na Roseira “, de Tom Jobim.
Uma queima de fogos celebrou o fim da cerimônia. Mas foi fazendo carnaval, com o Cordão do Bola Preta e escolas de samba em cena, que o Rio transformou o Maracanã no Sambódromo, colocou o mundo para sambar e deu um “até logo” – já saudoso – aos Jogos Olímpicos.
Sob chuva, Maracanã celebra o fim dos Jogos Olímpicos no Rio (Foto: Reuters)
* Participaram da cobertura Cahe Mota, David Abramvezt, Gabriel Fricke, Helena Rebello, João Gabriel Rodrigues, Richard Souza, Tiago Leme e Thiago Quintella. Texto de Lydia Gismondi.
Redação