‘Desinfetante’ de sangue pode ser alternativa para transfusões em risco de zika
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A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um kit para inativação de patógenos em bolsas de sangue doados. A traquitana tecnológica, quando irradiada com raios UV-A, é capaz de anular os mais diversos vírus e bactérias, inclusive o zika vírus, tão temido das grávidas pela sua associação com a microcefalia.
Pelo fato de não haver um exame rápido que detecte a presença do zika vírus em um sangue doado, a adoção do mecanismo por bancos de sangue brasileiros pode ser uma alternativa para dar segurança a grávidas que precisem receber plasma ou plaquetas.
Professor da Universidade Federal Fluminense e diretor do hemocentro Hemo Rio, Luíz Amorim explica que o dispositivo já estava aprovado na Europa, mas só agora chegou ao Brasil.
“O kit consiste em uma bolsa plástica, tipo a de armazenamento de sangue, com um medicamento chamado amotozalen (normalmente usado para tratamento de psoríase). Quando o sangue doado entra na bolsa, esse remédio se liga com o material genético dos vírus e bactérias”, detalha o médico.
Depois dessa ligação, a bolsa passa por uma máquina de radiação UV do tipo A. “Com os raios UV, o remédio se liga de forma irreversível ao material genético e os vírus e bactérias perdem a capacidade de contaminar alguém, já que, para isso, o vírus precisaria se multiplicar.”
Logo, o sistema não mata os vírus, mas impede sua replicação, fazendo com que perca a capacidade de contaminar alguém.
“Pode ser vírus do HIV ou qualquer vírus. Qualquer produto que tenha material genético”, diz.
A tecnologia, no entanto, não funciona para todos os componentes do sangue, apenas para o plasma e plaquetas.
“Quando alguém doa sangue, esse sangue será fracionado em três componentes: o concentrado de hemácias (glóbulos vermelhos), usados em pacientes com anemia, em cirurgias ou que perdem muito sangue em algum acidente, no plasma e nas plaquetas”, diz Amorim. O “desinfetante de sangue” só funciona no plasma e nas plaquetas.
Gerente médico do departamento de hemoterapia e terapia celular do Hospital Albert Einstein, José Mauro Kutner explica que, apesar de aprovado, essa tecnologia ainda não está em uso. “Estamos aguardando o primeiro lote para teste, já que é de implantação complexa no ponto de vista de operação”, explica.
“Até onde sabemos, não há malefícios para o paciente”, diz.
Só funciona fora do corpo
Esse “desinfetante de sangue” não consegue inativar a replicação de vírus dentro do corpo humano por dois motivos: a quantidade de vírus presentes no corpo é infinitamente maior do que aquela dentro de uma bolsa de sangue, e mesmo se fosse possível usar um medicamento para isso, se tornaria impossível irradiar uma pessoa com raios UV-A. A irradiação é necessária para a inativação dos vírus.
“Para a irradiação UV-A ser eficaz [nas bolsas de sangue], é preciso uma baixa densidade do sangue. A plaqueta e o plasma são amarelos e transparentes, então os raios penetram bem. No concentrado de hemácias (glóbulos vermelhos) a cor é densa, escura, e o UV não penetra”, explica Amorim.
Ig