Neurologista alerta população para prevenção de crises de enxaqueca e fala das consequências dos analgésicos

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Existem mais de 50 tipos de dores de cabeça catalogados e a enxaqueca é uma das mais frequentes. A doença se manifesta entre 10% a 20% da população e principalmente nas mulheres, devido à oscilação hormonal. Para o neurologista Pablo Lorenzon Coutinho, o uso excessivo de analgésicos tem contribuído para que pacientes tenham crises mais fortes e frequentes, e é necessário que a população se conscientize desse problema.

Em 2019, o Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW-UFPB), filial da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), atendeu 380 pacientes no Ambulatório de Cefaleia, conforme dados do Setor de Regulação e Avaliação em Saúde da instituição, e boa parte se queixava de enxaqueca. Cada paciente, em média, passou por duas consultas durante o ano, totalizando 727 consultas no período.

“É muito grande o número de pacientes que procuram o HULW com enxaqueca. Também por isso, nós temos uma equipe específica para tratamento de pacientes com dor de cabeça em geral, mas a forma mais frequente de dor de cabeça é, de longe, a enxaqueca”, afirma Pablo Lorenzon Coutinho, neurologista do Hospital Universitário.

A enxaqueca não é só uma dor de cabeça mais forte, que atrapalha a pessoa na hora de fazer as atividades normais. É uma doença genética, que se manifesta com crises de dor latejante, principalmente de um só lado da cabeça. Pode vir com náuseas, vômitos, e a pessoa costuma ter aversão à claridade, barulho e esforço físico. “Quando o paciente apresenta enxaqueca durante mais de 15 dias por mês, o quadro pode ser considerado crônico e merece um tratamento mais adequado”, alerta o médico Pablo Lorenzon.

De acordo com o neurologista do HULW, o ideal é que as pessoas evitem alguns gatilhos que desencadeiam as crises, como sobrecarga, estresse, privação de sono, jejum prolongado, consumo de bebidas alcóolicas, café em excesso e até chocolate. “O tratamento tem que ser feito na medida em que a pessoa sinta as crises ocorrendo com uma frequência maior de duas, três vezes por mês e isso provoque um prejuízo grande no dia a dia. O mais importante é fazer o tratamento preventivo. A atividade física sempre ajuda também”, destaca o especialista.

Em termos mais invasivos, as vítimas de enxaqueca também podem se valer de aplicações de toxina botulínica (botox), que são indicadas para casos de enxaqueca crônica e mais refratários, com dores de cabeça frequentes. Esse tipo de tratamento também é feito pelo Sistema Único de Saúde (SUS) quando há toxina botulínica disponível.

Para o neurologista Pablo Lorenzon, a melhor orientação a ser dada a um paciente que sofre com enxaqueca é: controle o uso de analgésicos. “A própria classe médica precisa ser conscientizada em relação a isso, porque é muito frequente a pessoa chegar com crise de enxaqueca diária e sair da consulta só com analgésico, mas isso não vai resolver”.

Os opioides (tramadol, codeína, etc.), particularmente, explica o médico do HULW, são muito prejudiciais para enxaqueca. “São comumente prescritos para pacientes com enxaqueca em pronto-atendimento, mas só mascaram a crise. Passando o efeito da medicação, a dor costuma voltar pior. É o que se chama de efeito rebote”, diz Pablo Lorenzon.

E o especialista complementa: “Jamais se deve usar analgésico em excesso, porque isso contribui para que as crises fiquem mais fortes e frequentes. Isso favorece a redução de endorfinas, os analgésicos naturais que temos no organismo, e a tendência é de ficar cada vez pior. Sempre que a pessoa precisa usar um analgésico mais de uma ou duas vezes por semana, é melhor procurar um médico, para fazer um tratamento preventivo. Ou seja, usar outro tipo de medicação (sem ser analgésico), de uso diário, que faz as crises ficarem mais fracas, mais espaçadas, até controlar bem”, explica.

Redação