Morre neste sábado (27) Dr. Pereira, 97 anos e cerca de 50 dedicados a saúde do Curimataú paraibano
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Faleceu nesta sábado (27), em João Pessoa, o Dr. José Pereira da Costa, médico que prestou durante mais de 50 anos relevantes serviços à saúde do município de Picuí e região.
Doutor José Pereira da Costa, 97 anos, era filho de Aniceto da Costa Pereira e de Eufrazia da Costa, natural de Cuité-PB, nascido em 06 de abril de 1924. Doutor Pereira, como era conhecido carinhosamente em toda região e em especial pela população de Picuí, Cuité e Nova Floresta, onde desenvolveu suas atividades profissionais e política, terminou seu curso de medicina, na UFPE, ao concluir seu curso, veio logo para trabalhar em Picuí, chegando no ano de 1957.
Em 1958, inaugurou a Maternidade Nossa Senhora de Fátima, e assim passou mais de 50 anos prestando seus relevantes serviços a toda região do Seridó e Curimataú da Paraíba, na qualidade de médico. Foi deputado estadual por 4 vezes pela Assembleia Legislativa da Paraíba, tendo apoio do seu sogro Roldão Zacarias de Macedo, ex-prefeito de Picuí, e claro apoiado por todos os políticos da região.
O corpo do Dr. Pereira foi velado em João Pessoa até o meio dia e seu sepultamento ocorreu em clima de muita comoção, por volta das 17:00 horas, deste domingo (28), no cemitério público de Cuité, Curimataú paraibano, sua terra natal.
O prefeito de Picuí Olivânio Remígio (PT), se solidarizou com os familiares do Dr. Pereira, pelo seu falecimento. Filho de Cuité, foi o 1º deputado eleito pela região, com longa folha de serviços prestados a Picuí na área da saúde principalmente.
A família Sisal FM e Portal do Curimataú, transmite as condolências a família nesse momento de dor.
TRAJETÓRIA POLÍTICA
A jornalista, advogada e escritora picuiense Fabiana Agra, em seu livro Picuí do Seridó Século XX, retratou a trajetória do Cuiteense, ‘filho adotivo’ e radicado em Picuí.
Picuí elege um deputado: o médico José Pereira da Costa
Em 1958, o médico cuiteense radicado em Picuí, José Pereira da Costa, se elegia deputado estadual pelo PSD. Nessa primeira campanha, “doutor” Pereira obteve 3.519 votos, sendo 1.860 deles de eleitores picuienses. Finalmente, o município podia dizer que havia um representante seu na Assembleia Legislativa. Em 1962, Pereira se candidatou pelo PDC (seu número era 97004) e conseguiu se reeleger, obtendo 3.691 votos em toda a Paraíba – dessa vez, o município de Picuí, sozinho, conferiu 2.139 votos ao médico, ou seja, mais da metade dos eleitores picuienses votaram em “doutor Pereira”, como era popularmente conhecido; já 1.346 cuiteenses votaram no filho da terra. Nas mesmas eleições, o também cuiteense Orlando Venâncio dos Santos foi candidato a deputado estadual pelo PTB e, mesmo obtendo 2.098 votos, não conseguiu se eleger, ficando na suplência. Nas eleições de 1966, Pereira se candidatou a deputado estadual, pela ARENA1 e, pela terceira vez, foi eleito, obtendo uma votação total de 6.295 votos – e mais da metade desses votos, ou seja, 3.306 votos, saíram das urnas picuienses. Em 1970, ao se candidatar pela quarta vez e obter 5.665 votos, Pereira não se elegeu, ficando na suplência.
Como deputado governista de 1958 a 1970, José Pereira da Costa possui inúmeras obras vinculadas à sua atuação parlamentar, destacando-se: ampliação total da Maternidade Nossa Senhora de Fátima, transformando-a em uma “maternidade hospital”, que atendia a toda região circunvizinha; instalação das agências do Banco do Brasil em Cuité e do Banco do Estado da Paraíba em Picuí; construção de pontes sobre diversos rios da região: ponte sobre o rio Picuí (com 80 metros de extensão), e as pontes sobre os rios Campo Comprido, Trapiá, e Tanques. No entanto, a sua principal intervenção, segundo Francisco Cavalcanti, foi intermediar a vinda da energia elétrica de Paulo Afonso, que chegou a Picuí no ano de 1966. Apesar de adversário político naquela época, Chico Cavalcanti leu o telegrama que dava a notícia já durante sua posse no cargo de vereador, pois nas suas palavras, “naquela época não existia a condição de ódio entre vencedores e derrotados”. E a energia chegou pelas mãos do então deputado José Pereira da Costa.
O homem por trás do político
José Pereira da Costa iniciou o curso de medicina em Recife, ressaltando-se que, no Nordeste da época, além da capital pernambucana, só existia curso de medicina em Salvador. Mas teve sorte, pois a universidade, que era particular, foi federalizada no ano de 1950. Antes de terminar o curso, em 1955, foi candidato a prefeito de Cuité, perdendo as eleições por apenas três votos, Pereira obteve 1.540 votos, enquanto Orlando Venâncio dos Santos, 1.543 votos. Após o resultado das eleições, voltou para o Recife e concluiu o curso no final do ano de 1955.
Logo após o término do curso, apareceram vários chamados para Pereira trabalhar no interior de Pernambuco e de Alagoas; no entanto, ele preferiu voltar para Cuité; ao chegar à região, soube que havia uma vaga para médico em Araruna – no entanto, um fato curioso ocorreu: no dia em que o jovem médico estava de saída para Araruna, o caminhão da feira deu um problema no motor e ele retornou para a casa de seu irmão Jaime. Poucas horas depois, chegaram os picuienses Eduardo Macedo e Roldão Zacarias e relataram que o médico residente de Picuí, Washington Andrade, iria deixar o município e que a vaga de médico precisava ser preenchida. Jovino Pereira da Costa, tio e tutor do médico, vaticinou: “Agora você vai acertar, porque Araruna tem muita briga política e Picuí é nossa terra, lá é difícil alguém não ser seu parente, você vai!”
No dia 17 de janeiro de 1956, Pereira chegou a Picuí, durante os preparativos das festividades em homenagem ao padroeiro São Sebastião. Mas, tão logo que chegou ao pavilhão da festa, recebeu um recado do farmacêutico Severino Fernandes, para socorrer um homem que havia sido esfaqueado no “beco de Joaquim Neto”; quando ele chegou ao local, pegou um chumaço de algodão para estancar o sangue mas não tinha como suturar o ferimento. Severino Fernandes lembrou que as ferramentas de Washington estavam no posto médico – que funcionava onde atualmente se encontra a Coletoria Estadual. Levaram o ferido para o consultório, Pereira conseguiu socorrê-lo e o homem sobreviveu ao ferimento. Ainda em 1955, Pereira fez o seu primeiro atendimento na região e conta como foi:
“Eu estava de saída para o sítio Saco do Milho, para visitar minha irmã; quando o carro ia chegando na propriedade rural, chegou Paulo Hipácio, a bordo de um caminhão, e perguntou: – doutor Pereira vai aí? Aí eu disse: – o que é que houve? Ele disse: tem uma mulher que mora de Baraúna pra lá, na Boa Fé e está morrendo de parto, e tô vindo me valer de você. Aí eu respondi: mas eu não tenho nada aqui. Paulo disse: – não tem nada, eu trouxe os ferros de doutor Washington! Esses ferros eram guardados numa caixa de metal; eu peguei as ferramentas e desci a serra de Cuité, passamos por Mari Preto e eu pensando: mas meu Deus, o que eu vou fazer lá, sem equipamentos adequados? Quando cheguei na casa da mulher, vi que faltava apenas romper a bolsa e rapidamente a criança nasceu”.
Eduardo Macedo era prefeito e, na época, não havia verbas federais ou estaduais para pagar ao médico, mas Eduardo disse que daria uma ajuda de custo pela Prefeitura. Assim, Pereira ficou morando na “república do médico”, fazendo refeições no Hotel de Zé Pedro e trabalhando no posto. Quando ele chegou, o prédio da maternidade estava quase pronto e Pereira encampou o projeto, sendo ajudado por Abílio César de Oliveira, Eduardo Macedo, Dona do Carmo, Nilo Dantas, Evaniza Dantas, José Rosendo, Joaquim Vidal, além de outras pessoas que também colaboraram com a obra. Em 19 de julho de 1956, o médico Washington Soares Almeida deixou o cargo de presidente da recém-fundada APAMIP, sendo sugerido o nome do novo médico para ocupar o cargo, sendo aclamado como tal por unanimidade. Para conseguir donativos para a conclusão da maternidade, foram realizados bingos, vaquejadas e festas. Depois, ele conseguiu um convênio com o Ministério da Saúde, através do paraibano Assis Chateaubriand, e lembra que havia uma verba que, muitas vezes, ele ia no próprio carro pegar em Recife. Finalmente, no dia 30 de dezembro de 1958, através da Prefeitura de Picuí, do Departamento Vacional da Criança e da própria APAMIP, foi fundada a “Maternidade Nossa Senhora de Fátima”, sob a direção de José Pereira da Costa.
Em 1959, doutor Pereira é eleito deputado estadual e, durante seu primeiro mandato, a meta principal na Assembleia era a saúde e a maternidade: equipou-a em julho de 1959, e a maternidade foi inaugurada com a presença do governador. No entanto, inicialmente eram feitos somente partos e quando ocorriam casos graves, esses eram encaminhados para Campina Grande. Pereira então recorreu ao governador Pedro Gondim e conseguiu verbas para comprar uma sala de cirurgia; a partir daí, ele e José Pereira de Oliveira começaram a fazer cirurgias em Picuí. Ainda durante o governo de Pedro Gondim, o deputado conseguiu verbas para a ampliação de 12 leitos, para 32 leitos da maternidade, que passou a ser “Hospital Regional de Picuí”.
Trajetória política de José Pereira da Costa
Na época em que detinha o mandato de deputado, Pereira viajava todas as semanas a João Pessoa, para comparecer aos trabalhos da Assembleia Legislativa, tendo como motorista “Pequeno de Rafael”. Enfrentando várias dificuldades, o deputado conseguiu inúmeras obras e melhorias para as regiões do Seridó oriental e Curimataú ocidental da Paraíba. No seu primeiro mandato, através de sua iniciativa, foram criados os municípios de Frei Martinho, Cubati, Nova Palmeira e também ocorreu a votação pela criação do município de Barra de Santa Rosa, já que o projeto se encontrava engavetado há muito tempo. Através de seus requerimentos, foram criados os distritos de Sossego, Telha, Baraúnas e Santa Luzia.
Em 21 de janeiro de 1962, a APAMIP passa a manter a Maternidade Nossa Senhora de Fátima, recebendo a denominação de Hospital Regional de Picuí, além do Posto de Puericultura Assis Chateaubriand. Em 1965, o deputado José Pereira da Costa apresentou recursos oriundos do Ministério da Fazenda, no valor de sete milhões de cruzeiros, para a construção de um pavilhão anexo à Maternidade e ampliação de leitos hospitalares. Nesse mesmo ano, ele afastou-se da direção da associação, deixando sua esposa Roldemília Macedo em seu lugar, pelo período de 1967 a 1973.
Ainda na primeira legislatura, com a colaboração do presidente da Fundação Padre Ibiapina, o deputado José Pereira conseguiu fundar dois colégios na região: o de Cuité – “Colégio Comercial Professor Clóvis Lima –, que tinha como diretora Anita Coelho, e o de Picuí – “Colégio Comercial 5 de agosto” –, que teve o próprio deputado como seu primeiro diretor. Os professores e diretores não eram remunerados, eram voluntários; havia a arrecadação dos sócios da entidade, além de uma pequena contribuição da própria fundação. Em Picuí, a primeira turma era composta por José Mariano da Silva, Joventina, Marli, dentre outros. Após a segunda turma, a campanha de Felipe Tiago foi ganhando vulto e aquele solicitou que a escola fosse transferida para a CNEG. Apesar de não ver a medida com bons olhos, o presidente da Fundação Padre Ibiapina, Afonso Pereira, terminou concordando com a transferência da instituição para a Campanha.
Em 1960, faltando 20 dias para as eleições e devido às divergências dentro do próprio PSB, José Pereira da Costa fez a campanha a favor de Pedro Gondim, que havia saído do partido e se candidato pela UDN. A partir desse apoio, Pereira conseguiu vários benefícios para a região: recuperou a estrada para Frei Martinho (que praticamente não existia) e a estrada para Nova Palmeira, ligando os municípios até a BR-230, em Soledade.
Durante o governo de João Agripino, o deputado José Pereira da Costa começou a pleitear a construção de pontes na região: ponte da Piaba, perto de Remígio, ponte de Barra de Santa Rosa, ponte Trapiá e a ponte do rio Picuí. João Agripino prometeu, mas nada de saírem as obras, que eram caras. Após ouvir suas bases, Pereira prometeu solucionar o problema ou tomar uma atitude; quando chegou a João Pessoa, resolveu ter uma conversa com o governador no Palácio da Redenção, nesses termos: “Governador, não vim lhe afrontar nem lhe desaforar, só vim dizer uma coisa: o curimataú está isolado do resto do estado! Mas agora eu vou tomar uma atitude, eu não vou romper com o governo, mas todos os dias eu vou me inscrever na Assembleia para chorar, para falar do sofrimento do povo do curimataú! Governador, diminua o nosso sofrimento, o senhor faça as quatro pontes que eu fico satisfeito”.
João Agripino disse então: “Eu não vou fazer o que você está pedindo não, eu não vou fazer as quatro não. Eu vou fazer todas! E quando chegar a Picuí, pode dizer que em menos de 15 dias começa a chegar material para a ponte de Barra de Santa Rosa e para Picuí”. Ao que Pereira retrucou: “Eu não vou dar minha palavra não, que eu já estou de cara lisa. Eu vou dizer que o senhor prometeu que iria chegar o material, só não sei quando”. E realmente, antes de quinze dias começou a chegar o material para a construção das pontes. Assim era o estilo de fazer política de José Pereira da Costa.
Extraído do livro: AGRA, Fabiana de Fátima Medeiros. Picuí do Seridó Século XX, volume 2, 1951-2000. João Pessoa: A União, 2015.
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