Além do título, Palmeiras e Santos decidem quem será o primeiro brasileiro a levantar uma Libertadores no Maracanã

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Palco de duas finais de Copa do Mundo, o mítico estádio inaugurado em 1950 não presenciou muitas partidas decisivas de Libertadores. Até hoje, apenas a LDU ergueu a taça no Maracanã. Nesse sábado, às 17h, Palmeiras e Santos fazem a final única da Libertadores da América.

Para os futeboleiros do mundo inteiro, Oscar Niemeyer fica em segundo lugar: a principal obra arquitetônica erguida em solo brasileiro é o Maracanã. O estádio inaugurado em 1950 carrega na simples nomenclatura uma aura difícil de ser equiparada em qualquer quadrante de qualquer hemisfério. Palco de duas finais de Copa do Mundo e de jornadas inesquecíveis, muitas vezes vividas em um singelo clássico de estadual com cem mil torcedores, o Estádio Mário Filho não é terreno fértil para fazer brotar taças da Libertadores.

No final da tarde de sábado, por exemplo, Santos e Palmeiras disputam, além do cobiçado posto de melhor time do continente, quem terá a honra de ser o primeiro clube brasileiro a erguer a Copa Libertadores na mítica paisagem. A cena será presenciada por poucos convidados — uma lástima, quase uma deslealdade cósmica, tanto para os postulantes quanto para o velho estádio. Será apenas a segunda vez em que veremos a Libertadores levantada no gramado abençoado por Ghiggia, Garrincha e Pelé. Na primeira e única vez em que isso aconteceu, o protagonista foi ninguém menos que Pepe Pancho Cevallos, arqueiro que se consagrou na decisão por pênaltis entre Fluminense e Liga de Quito. Os tricolores foram épicos, mas não fizeram história: chegaram ao 3 a 1 após perder de 4 a 2 no Equador, mas diretamente da marca da cal perderam a primeira Libertadores entregue no templo de concreto.Pelé contra o Boca Juniors em 1963 — Foto: Santos / Acervo

A camisa do Santos é assídua frequentadora do Maracanã. Entra em campo, fica à vontade até sente falta da Geral. Porque a histórica formação santista dos anos 1960 demandava o maior cenário que houvese, e nem ele conseguiu levantar uma Libertadores no Maracanã, mas por destempero do destino: em 1963, venceu o Boca Juniors nos dois jogos, mas o segundo e decisivo aconteceu naquela lúdica cavalice disputada na Bombonera. No entanto, pela Intercontinental, venceu o Milan, levantando a taça, em 1962, e também a primeira partida da decisão de 1963, contra o Benfica. Além de Santos e Fluminense, também o Flamengo de 1981 disputou uma final de Libertadores no Maracanã, vencendo o Cobreloa na primeira partida — depois, sofreria um revés no Chile e levantaria a taça no terceiro jogo, no Centenário, em Montevidéu. Vencedor da Libertadores de 1998, o Vasco da Gama mandou todos seus jogos em São Januário, atitude compreensível e aconselhável.

Assim, que Pelé e Zico se colocassem nos seus devidos lugares. Porque, durante muito tempo, quem se gabava de ser o único time carioca a levantar um título internacional no Maracanã era o valeroso Botafogo de 1993, campeão da Copa Conmebol em glamourosa final contra o Peñarol, sob a condução de Sinval e Perivaldo e do técnico Carlos Alberto Torres. Isso, é claro, levando em conta a moderna conformação dos torneios sul-americanos, após o advento da Libertadores, sem considerar a Copa Rio (que o próprio Palmeiras venceu) e outros perrengues que ultrapassaram fronteiras e desafiaram a geografia.

A escassez de taças internacionais levantadas por brasileiros torna ainda mais curioso o fato de que dois clubes estrangeiros conquistaram um “bicampeonato” continental sobre a relva do Maracanã. A Liga de Quito fez isso de forma consecutiva, ao vencer a Libertadores 2008 e a Sul-Americana 2009, em ambas decisões vitimando o Fluminense. No Fla-Flu da agonia, também o Flamengo teve seu algoz reincidente: sucumbiu diante do Independiente pela Supercopa Libertadores, em 1995, e depois pela Sul-Americana, em 2017. O primeiro título internacional dos rubro-negros no Maracanã aconteceria apenas em 2020, pela Recopa, diante do Independiente del Valle.

Dessa forma, o já retumbante embate libertador entre Palmeiras e Santos ganha outros requintes históricos. Porque, apesar da mitologia e da onipresença no imaginário futebolístico, ou talvez também por isso, não é todo dia que o Maracanã oferece a Copa Libertadores para ser erguida aos céus.

Com G1