Com homenagem a Chico Science, Galo leva mais de 2 milhões às ruas

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Avenida Guararapes está tomada por uma multidão, durante o 39º desfile do Galo da Madrugada (Foto: Reprodução / TV Globo)Com trinta trios elétricos – número que se repete há 10 anos – e seis carros alegóricos o Galo da Madrugada arrastou milhões de pessoas pelas ruas do bairro do Recife na manhã e tarde deste sábado (6). A estimativa dos organizadores é que cerca de 2,5 milhões de foliões acompanharam o bloco que homenageou este ano Chico Science e o movimento manguebeat com quatro alegorias. Celebrando a figura eterna de Science, artistas cantaram com o famoso chapéu de palha do intérprete. A folia começou às 9h e terminou por volta das 18h30 (horário do Recife).

No chão, os foliões, personagens principais do Galo da Madrugada, deram um show de bom humor, com sátiras contemporâneas sobre os problemas do país. Gente comum, que soltou a criatividade para esquecer crise econômica, epidemias, corrupção, preconceito e desigualdade social. As fantasias mais vistas foram de Aedes aegypti e políticos corruptos. Carlos Augusto, 44 anos, vestiu a familia inteira de mosquito e trouxe todo mundo para o desfile. “Eu sou o Chico, minha mulher é a Dona Zica e meu filho é o Denguinho”, brincou.

Apesar da criatividade ter sido a marca do desfile, a figura mais lembrada foi, sem dúvida, a do homenageado. “É uma homenagem muito merecida. Chico Science tinha essa energia, sabia passar a mensagem do povo e para o povo. Outro dia uma pessoa me disse que não vinha para o Galo por causa do número de pessoas na rua, mas que nesse ano vinha porque ia homenagear o manguebeat. É isso, vamos celebrar a cultura de Pernambuco”, contou o presidente do bloco, Rômulo Menezes.

Boneco gigante de Chico Science (Foto: Thays Estarque/ G1)Boneco gigante de Chico Science abriu desfile (Foto: Thays Estarque/ G1)

“De Chico para Chico”. Foi assim que o cantor Chico César classificou sua homenagem ao amigo e colega de profissão. “Estou muito emocionado porque encontrei hoje a mãe e a irmã de Science. A gente vê que a semente que ele plantou foi muito forte, ele deu auto-estima para o povo pernambucano que aprendeu que poderia fazer qualquer coisa. Estamos vendo tudo isso nessa linda celebração”, completou.

No quarto Galo da Madrugada, Gaby Amarantos já se considera uma veterana na folia de Momo. “É uma grande honra cantar neste que é o maior carnaval do universo e o maior bloco do mundo. Já tenho meu lugar garantido, mas ainda fico com frio na barriga antes de entrar, brinca a cantora paraense. Nessa edição, ela cantou com Nena Queiroga ao lado de Luíza Possi e Ayrton Montarroyos. Amarantos também saiu do roteiro e cantou com o Maestro Forró.

Gaby Amarantos no Galo da Madrugada 2016 (Foto: Thays Estarque/ G1)Gaby Amarantos era só alegria e simpatia no
desfile do Galo (Foto: Thays Estarque/ G1)

Para Montarroyos, a arte de Science continuaria em constante evolução e promovendo novas combinações de ritmos. “Infelizmente ele partiu muito cedo, mas deixou sua marca. Se estivesse vivo, teria nos abastecido de muita coisa boa”, acredita o cantor que foi trajado de “galo preto”. “Eu que fiz a roupa. Fiz em preto porque queria um carnaval menos colorido”, completou.

O tempo permaneceu firme até o momento que Otto e Lirinha se juntaram a banda Mundo Livre S/A para cantar os maiores sucessos do manguebeat. “Certamente Chico está lá em cima abençoando o que aconteceu aqui. Eles [Mundo Livre S/A] desbravaram o manguebeat junto com Science. Foi um momento mágico”, desabafou o ex-integrante do grupo Cordel do Fogo Encantado.

“Comecei vindo para o Galo com meu pai. São 40 anos acompanhado o bloco. Sou encantado, amo isso aqui e tenho certeza que essa chuva foi um bom presságio”, acrescentou Otto.

Presente no camarote do Galo da Madrugada, o prefeito do Recife, Geraldo Julio, contou que foi um esforço para garantir que o carnaval não sentisse a crise econômica que assola o Brasil. “São 52 polos espalhados pela cidade e mais de dois mil shows. Foi um esforço porque o carnaval faz parte da nossa cultura e promove geração de emprego, que era nossa preocupação”, pondera o administrador municipal.

Galo da Madrugada 2016 (Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press)Dos barcos, foliões também aproveitaram o Galo da Madrugada (Foto: Marlon Costa / Pernambuco Press)

O governador do estado, Paulo Câmara, disse que o estado se preparou para fazer um carnaval mais simples. “São 14 polos carnavalescos distribuídos pelo interior. Foi um esforço manter o nível, mas vale a pena porque garante emprego e turismo. Nosso carnaval já é barato porque quem faz ele é o folião na rua”, salientou o governador.

Mais personagens
Os irmãos Aldair Vilarim, auxiliar administrativo, 38 anos, e Alexandre Vilarim, técnico de segurança do trabalho, 39,  foram vestidos de Chico Science. “Nós éramos moleques e hoje temos família. O Manguebeat é um movimento que não vai acabar nunca, está vivo, assim como a memória de Science”, alegou Alexandre ao dizer que não tem como esquecer o ritmo. “Foi algo importante tanto para Pernambuco quanto para o mundo”, completou.

A engenheira Patrícia Morais, de 54 anos, foi uma das primeiras foliãs a chegar no percurso do Galo. Ela e os quatro amigos resolveram se fantasiar de personagens dos contos de fadas. “Viemos diretamente do reino encantado. Ao todo somos 14 personagens que vieram trazer magia para o Galo”, brincou, vestida de Bela – da Bela e a Fera.

Folião armado com mosquiteiro e bomba com veneno para combater o Aedes aegypit (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)Folião armado com mosquiteiro e bomba para combater o Aedes (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)

Reclamando do calor, a aposentada Tereza Pedrosa, 65 anos, disparou. “Era uma vez várias princesas que não sabiam dessa quentura e derreteram no sol do Galo”, aos risos fantasiada de Branca de Neve. Porém, ela assume que vale a pena pela festa e pela celebração do dia. “Juntaram nosso Galo com Science. É nossa cultura, temos que reverenciar”, conclui.
O publicitário Thiago Nascimento, 30 anos, e a mulher Bruna Azevedo, 30, terapeuta ocupacional, trouxeram o pequeno Pedro Lucas, de 1 ano. “Viemos de super heróis porque queríamos voar e curtir o carnaval lá de cima, precisava mostrar para meu filho esse movimento que foi tão importante para nosso estado”, disse Thiago.

Redação