Familiares criam acervo digital de Vinicius de Moraes
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Vinicius de Moraes era poeta, compositor, cantor, jornalista, diplomata, cronista e, como define a neta Julia Moraes um homem que “amava o amor”. Um dos maiores artistas brasileiros partiu há 41 anos, neste dia 9 de julho.
O Poetinha deixou saudades, mas também deixou cartas, rascunhos e manuscritos que agora podem ser acessados gratuitamente, com apenas um clique. O projeto Acervo Digital Vinicius de Moraes possui 11 mil documentos originais, e foi idealizado e coordenado por Julia e Marcus Moraes, neta e sobrinho-neto de Vinicius, respectivamente.
O objetivo é preservar digitalmente os arquivos, incentivar a pesquisa e democratizar o acesso à obra do poeta. Manuscritos e datiloscritos revelam particularidades do processo de criação do artista ao longo de quase 50 anos da vida e obra.
O acervo, agora digitalizado, foi doado no final da década de 1980 pela família de Vinicius de Moraes ao Arquivo-Museu de Literatura Brasileira da Fundação Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro. São materiais que revelam o coração, a cabeça e o talento de Vinícius bem na ponta da sua caneta. Um Vinícius nu e cru, que também pisava na terra dos mortais, que errava e acertava.
“Você entende que esse processo não é só feito de acertos. Existe uma busca e um empenho muito grande dele nesse encontro da palavra perfeita. Dessa simplicidade poética”
Julia Moraes, neta de Vinicius de Moraes
Toquinho, parceiro musical de Vinicius por pelo menos uma década, falou à CNN com carinho de uma história que confirma isso:
“Me lembro que uma vez cheguei na casa dele e ele estava olhando o quintal dele lá na Bahia, e tinha um pavão, um peru, um gato e um cachorro. Aí ele olhou assim para mim e falou: Olha, Toquinho, estou aprendendo mais com esses bichos, com a harmonia que eles têm, do que com toda humanidade que conheci.”
Toquinho
Escrever o mundo, os sentimentos e a vida de forma simples, não é fácil. Vinícius era incansável na busca pela palavra certa.
Doutor e mestre em Letras pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) Miguel Jost lembra uma obra do poeta que mostra o quanto ele era criterioso na finalização dos seus escritos:
“Um poema muito importante na obra de Vinicius, ‘O Haver’, que você vai encontrar, por exemplo, no site, três versões distintas que denotam de forma muito interessante o rigor do Vinicius na forma final do poema”
Também foi com muito talento que Vinicius deixou sua marca no cenário cultural, observando o entorno. Pensando e criando a partir do que estava em sua volta, como o Rio de janeiro, um dos seus cenários preferidos. E cada particularidade da cidade maravilhosa inspirava o Poetinha, como foi mostrado em um dos seus maiores sucessos: “A Garota de Ipanema”.
A canção que descreve Helô Pinheiro, na época, a menina de 17 anos, que passava por ele, “a caminho do mar”, foi composta em parceira com Tom Jobim e se tornou o hino da bossa nova. Rompeu fronteiras e se transformou na segunda música mais regravada de todos os tempos, ficando atrás apenas de “Yesterday”, dos Beatles. A canção foi interpretada por artistas consagrados, ganhou prêmios e levou para o mundo algumas paixões do nosso Poetinha: o Rio, o mar e as mulheres.
Durante sua vida e obra, Vinicius se deu, se doou e nos presenteou com músicas inesquecíveis, com versos simples, mas de sentimentos profundos. O artista era um apaixonado que nos ensinou a amar, e seu legado não para por aqui. A cultura brasileira tem muito de Vinicius, para nós e para as próximas gerações. Ainda bem. Como disse o poeta, “que não seja imortal, posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure.”
Com CNN