
Abel se emociona com título do Flu: “Ouvi muita bobagem ano passado”
Por - em 8 anos atrás 882
Abel Braga deu uma entrevista digna de campeão. Se deu ao luxo de comemorar, emocionar, desabafar e exaltar o Fluminense versão 2017. Para ele, o sucesso tem a ver com a sinceridade da direção e a entrega dos jogadores. Que culminou com o título da Taça Guanabara, neste domingo, sobre o Flamengo – vitória de 4 a 2 nos pênaltis após empate em 3 a 3. O treinador disse ter ficado feliz pela conquista, reclamou de ter ouvido bobagem no ano passado e reconheceu ter sentido medo de escalar três atacantes.
A conversa com os jornalistas começou com uma homenagem de Abel. Ao lembrar de Caio Júnior, falecido no acidente da Chapecoense, o treinador pediu a regulamentação da profissão. Depois, reconheceu lhe faltar palavras para descrever a intensidade e a qualidade da partida. Ele soube, porém, avaliar o período anterior ao assumir o Flu – ficou sem trabalhar depois de sair do Al Jazira.
– Escutei muita bobagem no ano passado. Não trabalhei por opção. É o 24º (título) na carreira. Sou identificado demais com o clube. Já disse que até agora ainda não entendi a minha saída em 2013. Quem sabe, poderia ter ficado aqui direto. Quero agradecer quem confiou em mim. Mas acima de tudo, aos jogadores. São atletas de verdade – disse Abelão.

Com a conquista da Taça Guanabara, o Fluminense já garante uma das quatro vagas para a semifinal do Campeonato Carioca. Os outros semifinalistas serão o campeão da Taça Rio e os dois times com a melhor campanha geral. Abel disse que deve fazer rodízio de jogadores nesta etapa do campeonato. A partida deste domingo, aliás, foi uma outra mudança. Sem Douglas e Scarpa, o Tricolor foi com três atacantes.
– Sem o Scarpa hoje, falei que iríamos jogar com Richarlison, Wellington e Dourado. Falaram que eu era louco dentro do clube. Mas decidi os três atacantes. Tinha de colocar medo no adversário. Não posso demonstrar que tenho medo. Porém, no fundo, eu tinha. Mudamos a maneira de jogar de dois jogadores. Falei que era a única maneira de ganhar do Flamengo. Deu certo – completou Abel.
O Flu está de folga na segunda-feira. Volta a treinar na terça. Na quinta, encara o Criciúma pela Copa do Brasil.

Veja outras frases do técnico campeão deste domingo:
Primeira manifestação
Primeiro, queria mostrar isso aqui. Foi combinado de todos os meus colegas usarem hoje, no dia 5: é uma camisa escrito Caio Júnior. Eu não usei pois consegui pois ficou apertada, estou acima do peso. É uma luta nossa, árdua. Para que eu e meus colegas tenhamos a profissão regulamentada. Tem muita coisa errada na nossa carreira de treinador. Sei que colegas usaram Brasil afora. Sobre o jogo… Se falar muita coisa, não vamos conseguir explicar o que aconteceu. Fabuloso. Foi um jogo surreal. Placar de 3 a 3, as duas equipes atacando. Fora de campo, as coisas correram bem. Que isso sirva de exemplo. Não é necessário matar. É necessário torcer. Não é necessário brigar. É necessário apoiar. As equipes e as torcidas deram grande apresentações. Meu dicionário é pequeno para explicar o que aconteceu em campo. Foi simplesmente fantástico. Foi o que disse ao Zé Ricardo.
Superação sem Douglas e Scarpa
Eu gosto de chegar 14h, quando o treino é às 16h. Sinto orgulho. É formidável trabalhar com esse grupo. Depois da viagem de volta de Sinop, eles foram ao clube e quiseram treinar. Ofereci só a piscina. Isso explica muita coisa. Eu, como torcedor, quando fui contratado, coloquei para a direção, disse que meu time não seria mentiroso. Não prometi nada. Só que ia ter alma de guerreiro. Tem sido assim. As dificuldades são sempre grandes. Mas está resgatada a confiança. O ano passado deixou muita insegurança. E como se consegue confiança? Só com trabalho. E isso só se consegue com verdade. Desde o primeiro dia aqui, a gente fala a verdade. O clube foi claro com os objetivos, foi verdadeiro ao saber que não teria condição de contratar. Foi verdadeiro que poderia contratar caso saíssem algumas peças. Não desrespeitamos quem tem contrato e ficou. É só ver: Pierre jogou a final. Vocês sabiam quem era para sair. Gum, Danilo, Osvaldo e Pierre. Osvaldo jogou, Danilo machucou, Gum, operou. Osvaldo e Pierre jogaram. Essa é a maneira de não errar. Nós estávamos prevenidos para a derrota. Queira ou não, terminamos de forma sensacional. O objetivo foi cumprido. Campeões de forma invicta.
Futuro
Vamos tentar ganhar a Taça Rio. Acima de tudo, vamos tentar evitar que uma equipe tenha mais pontos do que a gente. É o que queremos. Para poder terminar com vantagem. Dá para administrar melhor, dá para ter rodízio maior de jogadores. Mas sem perder a essência. Sem o Scarpa hoje, falei que iríamos jogar com Richarlison, Wellington e Dourado. Falaram que eu era louco dentro do clube. Mas decidi os três atacantes. Tinha de colocar medo no adversário. Não posso demonstrar que tenho medo. Porém, no fundo, eu tinha. Mudamos a maneira de jogar de dois jogadores. Falei que era a única maneira de ganhar do Flamengo. Por incrível que pareça, em uma jogada muito forte deles, a bola parada, saíram os gols. Foi merecido. Ver a torcida vibrando de novo foi um prêmio para mim. Escutei muita bobagem no ano passado. Não trabalhei por opção. É o 24º na carreira. Sou identificado demais com o clube. Já disse que até agora ainda não entendi a minha saída em 2013. Quem sabe, poderia ter ficado aqui direto. Quero agradecer quem confiou em mim. Mas acima de tudo, aos jogadores. São atletas de verdade.
Scarpa e três atacantes
Eu soube que o Scarpa não jogaria na quarta-feira. Ele queria. Ele falou que ia treinar no sábado e jogar. Disse que não era assim. Ele saiu no intervalo no sábado. Ficou um bom tempo sem treinar. Até sábado, ontem. Não adiantava fazer esforço surreal que não estaria 100%. Era o pé direito, o pé de apoio. O problema dos três atacantes era isso: saber que a perda de bola seria mortal. Assim saiu o gol, mais algumas situações. Eu sacrifiquei muito o Wellington e o Richarlison, mas acima de todo o Sornoza. Zé Ricardo falou que eles rodaram a bola, mas não entraram. Eles não conseguiam a vertical, aí começaram os cruzamentos. Estou muito feliz. Os jogadores compraram a ideia.
Disputa de pênaltis
Quer saber a verdade? O Marquinho foi quem bateu pior no treinamento. Além de começar a disputa com lateral e um zagueiro, o quinto seria o Renato Chaves. Os três foram quem melhor treinaram. Já tinha perdido os batedores oficiais. Marcos Junior se prontificou. Confiei na experiência do Marquinho. Além do mérito deles, teve o mérito do Julio César. Coeçou o ano na reserva. Com certeza, posso dizer com toda a adoração que tenho pelo homem Cavalieri, posso dizer: agora tem luta e tem luta. E a luta não é pequena.
Entrega de camisa a senhor
Não conheço. A pessoa que estava com ele, ou filha ou neta. Ela apontou a ele. Eu procurava o meu filho. Fui atrás e não vi. Vi que o senhor tinha dificuldade na locomoção. O legal disso tudo foi que ninguém meteu a mão na camisa. Respeitaram que a camisa era para o senhor.
Copa do Brasil
Legal o voo fretado a Criciúma. Foi brabo a volta de Sinop. Chegar a uma final de campeonato, não tem como mudar a forma de jogar. No fundo, jogo só com o Orejuela que não pode subir, vocês sabem disso. Chegar a final e falar que essa maneira a gente ia perder… O jogador tem de acreditar. Falei que a gente ia estourar na cara do gol. Deu certo. Vamos folgar amanhã, na terça pela manhã. O presidente entendeu o nosso sofrimento, deu o voo fretado. O pessoal do clube está sendo leal e verdadeiro. Essa direção tem sido de verdade. Valorizo isso, sou assim com meus filhos. Jogador gosta de ouvir isso. Não tem abobrinha, não tem sacanagem. Temos exemplo a seguir aqui no Rio, o Flamengo. Tem uma administração que tem de tirar o chapéu. Essa maneira começou no Brasil com o Roberto Carlos e o Ronaldo no Corinthians. Pena que acabou lá, destruíram o projeto. O Flamengo começou e continua. Te garanto. O Fluminense vai sofrer mais um ou dois anos, depois melhorará.
Redação