Santa Cruz e Campinense, o capítulo final da Copa do Nordeste
Por - em 9 anos atrás 656
Paixão. Arquibancadas lotadas. Tradição e, acima de tudo, raça. Tudo isso vai sobrar nos dois jogos da final da Copa do Nordeste. A disputa começa nesta quarta-feira, no Arruda, e termina neste domingo, dia 1º de maio, em Campina Grande. Santa Cruz e Campinense medem forças pelo título – inédito para os tricolores -, por uma gorda premiação e por uma vaga nas próximas duas edições da Copa Sul-Americana.
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Por isso, saiba como os dois finalistas entram na semana decisiva do Nordestão. O Doentes por Futebol comparou as trajetórias de Campinense e Santa Cruz, analisou as duas equipes e compilou as informações mais importantes sobre elas. Confira nosso especial sobreo capítulo final da competição mais carismática do primeiro semestre no país.
O Campinense sobrou na fase inicial, contrariando a lógica que apontava para o domínio do Salgueiro no grupo. Só veio perder em seu oitavo jogo na competição, quando recebeu o Carcará pelas quartas-de-final, sofreu, mas se classificou para enfrentar o Sport.
Contra o Leão, o padrão tático bem implementado pelo técnico Francisco Diá fez a diferença,expondo toda a limitação do Rubro-negro pernambucano em termos de organização. Os pênaltis que decidiram a fatura apenas ratificaram a ampla superioridade paraibana nos dois confrontos. O clube tem a melhor defesa e o melhor ataque da competição.
Após entrar no Nordestão como favorito, em virtude do acesso à Série A obtido em novembro de 2015, o Santa Cruz chegou a se ver virtualmente eliminado depois de um péssimo início na fase de grupos. Perdeu duas vezes para o Bahia e só se classificou no saldo de gols, graças à supremacia do Tricolor de Aço, que venceu Juazeirense e Confiança com folgas e facilitou a vida coral na chave.
A má campanha na fase inicial custou o emprego de Marcelo Martelotte. O Santa apostou em Milton Mendes para substituí-lo. Tiro certeiro: o técnico catarinense ainda está invicto no comando tricolor. Ele organizou o time e o levou às finais estadual e regional, com vitórias convincentes sobre o Náutico, no Pernambucano, e sobre Ceará e Bahia na Copa do Nordeste. Por tudo isso, o Tricolor chega embalado pelos resultados e pela rápida evolução do futebol apresentado pela equipe.
Santa Cruz e Campinense chegaram à final da Copa do Nordeste muito por conta do desempenho avassalador de duas duplas dinâmicas. Com 9 e 10 gols, respectivamente, elas foram responsáveis por descomplicar jogos difíceis, e empurrar seus times na primeira competição importante da temporada.
Do lado tricolor, Grafite e Keno têm sido as principais referências do time na frente. O que o primeiro tem de inteligência para se movimentar e abrir espaços, o outro tem de velocidade e ousadia para driblar marcadores. A dupla subiu muito de rendimento após a chegada de Milton Mendes, que conseguiu extrair o melhor do camisa 23. Vivendo grande momento, elapode causar muitos problemas caso a defesa paraibana não mantenha a concentração.
A dupla da Raposa, por sua vez, não é exatamente de ataque – Roger Gaúcho é meia, enquanto Rodrigão é centroavante. Mas os dois têm se complementado à perfeição desde o início da temporada. A parceria é uma das razões pelas quais o nome do segundo figura no topo da lista de maiores artilheiros do país em 2016, com 16 gols. E explica também o assédio de clubes maiores sobre ambos: o atacante deve ir para o Santos, enquanto Roger vem sendo sondado por clubes coreanos.
Há mais de 18 meses no comando do Campinense, Francisco Diá vem chamando a atenção na atual Copa do Nordeste pela organização apresentada pelo seu time dentro de campo. O técnico de 61 anos tem feito seus jogadores atuarem de forma compacta, e armou um esquema tático que explora o talento e a velocidade de Roger Gaúcho e Jussimar, em função do faro de gol de Rodrigão.
Além disso, essa Raposa é uma equipe que sabe contra-atacar com rapidez – e que tem convicção na eficiência de seus homens de frente. Deve ser essa a arapuca montada por Diá para conseguir um bom resultado no jogo de ida e levar a decisão para o Amigão, estratégia já usada – com êxito – na semifinal contra o Sport.
Uma verdadeira revolução. Foi isso que Milton Mendes provocou desde sua chegada ao Arruda. De uma equipe com sérios problemas defensivos e muita dificuldade para criar boas oportunidades de gol, o Santa Cruz se transformou em um time organizado e determinado, que se expõe pouco e faz a transição para o ataque com rapidez.
O técnico recuperou jogadores que faziam um mau início de temporada, como Tiago Costa, Grafite, Lelê, e ganhou rapidamente a confiança do grupo, promovendo um ambiente descontraído, porém altamente profissional. Assim, os resultados logo apareceram, permitindo que seus conceitos táticos fossem digeridos com facilidade pelos atletas.
Para essas finais, é de se esperar partidas intensamente disputadas no espaço curto. Com o afinco e a raça tão peculiares à Copa do Nordeste, mas também com a organização tática de duas equipes que sabem jogar com e sem a bola.
No jogo de ida, Milton Mendes deve contar com a proteção segura de Uillian Corrêia para dar mais liberdade aos seus jogadores de frente e, com a movimentação dessas peças,confundir a defesa paraibana e construir um placar que deixe o Tricolor em vantagem para o jogo da volta. A grande baixa é o meia João Paulo, importantíssimo para a criação da equipe, que está suspenso para a partida de ida. O camisa 10 deve ser substituído por Leandrinho (“ex”-Leandro Lima, aquele mesmo, revelado pelo São Caetano).
Francisco Diá, por sua vez, certamente não investirá em uma proposta de jogo ousada no confronto no Arruda. Ele deve posicionar suas linhas muito recuadas e justas, esperar as investidas do Santa para recuperar a posse da bola e tentar fazer a ligação rápida com o meia Roger Gaúcho, cérebro do time. Sempre confiando, é claro, na pontaria calibrada de seu goleador para definir quando a oportunidade aparecer.
À parte os astros da partida, dois jogadores devem protagonizar uma disputa que tem tudo para ser crucial para o desenrolar dos fatos. Tanto Diá quanto Mendes possuem jogadores discretos, mas dos quais seus esquemas táticos são dependentes. No Santa Cruz, essa peça é Lelê, enquanto Negretti desempenha esse papel no Campinense.
O baixinho foi reposicionado pelo novo treinador. Vinha jogando pelos flancos, mas assumiu um papel mais central e tem sido a conexão que vinha faltando entre o meio-campo e o ataque. Apesar disso, ele não deixou de armar jogadas pelas pontas, em uma movimentação fundamental para dar fluidez a todo o sistema ofensivo coral.
Já Negretti pode ser definido como o “faz-tudo” da Raposa. Já atuou em diversas posições sob o comando de Diá e é a grande chave que permite ao técnico mudanças táticas sem a necessidade de mexer no time. É ele quem deve ficar de olho em Lelê. Se conseguir conter o ímpeto do meia-atacante, pode ajudar sua equipe a fazer um grande resultado.
Se o passado tiver algum peso nessa decisão, ele é muito favorável ao Santa Cruz. Foram apenas duas derrotas em onze jogos contra o Campinense desde 1978. O Tricolor temquatro vitórias e cinco empates, com 18 gols marcados – seis deles marcados em uma goleada, logo no primeiro encontro – e oito sofridos. No entanto, os paraibanos são donos da maior série invicta contra os corais: seis partidas, em um período de quase 21 anos.
Redação