Políticos pediram doação mesmo durante negociação de delações, diz ex-executivo
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O ex-executivo da Odebrecht Fernando Reis afirmou em depoimento que a empresa foi procurada por políticos interessados em doações via caixa dois nas eleições municipais de 2016 mesmo quando já era sabido que negociava acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (veja no vídeo acima a partir do minuto 6min40).
Pelo acordo, executivos e ex-executivos acertaram colaborar com as investigações da Lava Jato em troca de benefícios, como eventual redução da pena de prisão em caso de condenação.
As negociações da Odebrecht para a delação tiveram início no começo de 2016. Em junho, os executivos assinaram termo de confidencialidade e, em novembro, o acordo definitivo.
“Em 2016, nós não praticamos nada [de doação irregular], já com a Lava Jato em curso, já com nossos executivos presos, já com a consciência de que a Odebrecht estava fazendo uma delação e a imprensa divulgando isso. Mesmo assim, nós fomos buscados por vários políticos para fazer contribuição de campanha para caixa dois”, disse Reis em sua delação premiada.
O delator fez o relato ao explicar aos investigadores que a importância da Odebrecht no financiamento de campanhas eleitorais no Brasil cresceu e se espalhou por partidos e candidaturas em várias partes dos país a partir de 2008, quando foi criada a Odebrecht Ambiental, braço do grupo que atua no setor de saneamento.
“A Odebrecht Ambiental foi criada em 2008, e o crescimento da nossa participação nos quatro relatos que eu trago aqui, ele vai crescendo de acordo com a empresa”, afirmou.
“Pouquíssimas as doações que a gente fez em 2008. Em 2010, foram um pouquinho maiores. Em 2012, nas eleições municipais, a gente já estava presente em mais de 100 municípios, maiores ainda. Em 2014, um pouco menor porque eram eleições estaduais”, contou.
Ameaça
Reis relata ainda que parte das doações feitas pela Odebrecht a prefeitos tinha o objetivo de evitar ameaças de cancelamento dos contratos de concessão na área de saneamento.
“Tem sempre essa ameaça do ‘vou cancelar seu contrato’. No Brasil, apesar de que isso vem decrescendo, no Brasil ainda tem umas histórias…. tem mais história de ameaça do que de cancelamento efetivo. Mas a ameaça por si só afeta o financiador. Ela afeta uma série de coisas, afeta a empresa, afeta as garantias que você tem dado. É um transtorno a simples ameaça”, afirmou o delator.
“Então, nós adotamos como conceito dentro da Odebrecht Ambiental sugerir ao pessoal da construtora, e aos coordenadores disso, que a gente doasse pelo propósito institucional de manutenção da regularidade contratual”, completou Reis.
Redação