Hora de aventura!

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sondaEm 2010, a sonda japonesa Hayabusa fez história ao trazer para a Terra as primeiras amostras de material coletadas de um asteroide. Mas a missão de 7 anos e 4 bilhões de km percorridos foi cheia de percalços e sustos.

Os painéis solares se degradaram muito mais rapidamente do que o previsto, o que causou uma queda na produção de energia para os instrumentos. Várias partes mecânicas simplesmente emperraram e para complicar ainda mais, a explosão de um dos tanques de combustível fez a nave girar sem controle o que fez as comunicações com a Terra se interromperem por mais de 2 meses. Apesar de tudo isso, a cápsula com as amostras conseguiu voltar para Terra e foi recuperada. Posteriormente foi verificado que a sonda não tinha conseguido coletar a quantidade de material prevista, mas o pouco que chegou aqui vem sendo analisado com grande cuidado.

Depois de aprender com as falhas da Hayabusa, a Agência Espacial Japonesa (JAXA) lançou a Hayabusa 2 em 2014 com destino ao asteroide Ryugu com uma missão muito mais ambiciosa.

A sonda chegou no asteroide em junho do ano passado e logo após mapear sua superfície, liberou 2 jipinhos com o tamanho de um pote de margarina que se movem aos pulos, como pulgas, pela superfície. Além deles, mais 2 outros jipes pegaram carona, um da Agência Espacial Europeia (ESA) que pousou em outubro de 2018 e funcionou por 17 horas, conforme planejado. O último dos jipes será liberado em julho deste ano e em dezembro a nave encerra sua fase de ciência após coletar amostras de Ryugu e em dezembro de 2020 elas devem ser recolhidas em um deserto na Austrália.

Apesar da grande expectativa girar em torno das amostras, os resultados iniciais obtidos pelos jipinhos e pelos dados obtidos a partir da sonda já permitem algumas conclusões importantes. Por exemplo, o asteroide nada mais é do que um amontoado de rochas, pedras, poeira e regolito, uma espécie de poeira tão fina quanto talco. Esse amontoado de coisas é resultado de um impacto violento que teria acontecido nas épocas iniciais de formação do Sistema Solar. Essas colisões teriam feito o Ryugu aumentar seu período de rotação de 3,5 horas para as atuais 7,6 horas.

Outra conclusão interessante é que a análise dos dados obtidos até agora não mostrou a presença de água, mas mostrou materiais que só poderiam ter sido criados na presença de água. O asteroide está bem mais perto do Sol do que os objetos do Cinturão de Kuiper, como Ultima Thule sobrevoado pela New Horizons no Ano Novo, portanto é de se esperar que a superfície de Ryugu tenha sido castigado por intensos raios ultravioleta do Sol durante bilhões de anos. Isso explicaria essa descoberta, mas mais interessante que isso é que deve ter havido água no asteroide que foi atingido há bilhões de anos e que acabou dando origem a Ryugu. Basicamente, no início do Sistema Solar os asteroides deviam conter muito mais água do que o suposto até agora e isso ajuda a entender a origem da água na Terra, por exemplo.

Bem no comecinho do Sistema Solar, a Terra passou por um período chamado de ‘Grande Bombardeio’. Nesse período que deve ter durado entre 1 e 2 bilhões anos, a quantidade de asteroides vagando pelo espaço era muito grande e havia muitas colisões entre eles. Fatalmente eles acabavam atingido um planeta também e com a violência das colisões, bem como sua frequência, fazia com que a superfície da Terra fosse um grande oceano de lava. Mas como subproduto, esses asteroides poderiam ter trazido água que aos poucos foram se acumulando até que quando a Terra esfriou, formando os oceanos.

Mas a quantidade de água encontrada nos asteroides atualmente não daria conta de fazer isso e a culpa sempre recaiu sobre os cometas. Todavia, a sonda Rosetta e o módulo Philae mostraram que se a quantidade de água no núcleo do cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko for típica dos cometas em nosso sistema, a quantidade de água trazida por eles só daria para justificar 1/3 do total na Terra. Agora com essas novas evidências, talvez a história tenha sido outra, dando um papel mais importante para os asteroides.

Agora vem a parte mais esperada da missão, a coleta das amostras.

De acordo com a JAXA, no próximo mês a Hayabusa 2 deve executar suas manobras para se aproximar do asteroide e executar a coleta. A estratégia é a seguinte, depois do mapeamento da superfície do asteroide, a sonda lançou uma espécie de estaca de navegação, uma esfera recoberta de material altamente reflexivo, ou seja, facilmente reconhecível. A nave deve capturar a posição da esfera e vai usa-la para sincronizar sua órbita com a rotação de Ryugu. Ao mesmo tempo, a fraca gravidade do asteroide vai puxando a nave que aos poucos vai perdendo altura.

Chegando a uma altura adequada, mas sem tocar a superfície, a sonda vai disparar um projétil que deve atingir a superfície lançando pedras e poeira para o espaço. Nesse momento a Hayabusa vai estar esperando com um braço esticado e uma espécie de cesta para coletar tudo o que conseguir. Essa estratégia foi adotada para evitar que o braço toque a superfície e cause contaminação com microorganismos terrestres, mas também para evitar o risco da nave se desgovernar caso a ponta do braço atingisse uma pedra que se deslocasse, fazendo a nave girar.

A parte que deixa a manobra mais arriscada é que quando a esfera de referência foi lançada, ela caiu a uma distância de mais de 10 metros longe do ponto escolhido. O ponto de queda é, por outro lado, uns 3 metros da borda de outra área escolhida como alternativa. Os engenheiros da JAXA então escolheram um ponto bem no meio entre o ponto principal e o secundário.

Se fosse só isso, tudo bem, mas esse ponto tem duas rochas de sentinela e a nave deve fazer a aproximação “às cegas”. A nave vai usar a esfera como referência e ao chegar na altura prevista vai navegar de lado até chegar ao ponto da coleta entre as duas rochas. Esse voo lateral será feito sem olhar para o lado para desviar das rochas, pois a câmera de navegação só aponta para frente, justamente para se orientar pela esfera reluzente na superfície.

O ano começou muito bem com o pouso da Chang’e 4 no lado oculto da Lua e com o sobrevoo da New Horizons em Ultima Thule, e agora já temos a perspectiva da primeira coleta da Hayabusa 2. Se tudo correr bem, ela pode executar ainda mais outras duas coletas antes de voltar para casa. Só para não esquecer, ainda tem a OSIRIS-REx orbitando o asteroide Bennu se preparando para fazer uma coleta no ano que vem!

G1