1 milhão de imigrantes chegaram à Europa, mas apenas 190 foram formalmente realocados

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 mundoA dificuldade da União Europeia para lidar com a imigração pode ser contada sinceramente em dois números: mais de um milhão de pessoas chegaram à Europa neste ano, segundo a Organização Internacional para as Migrações, e apenas 190 foram formalmente realocados.

A disparidade é um poderoso lembrete de como a imigração estressou a vontade política da União Europeia, sua unidade e seus recursos.

As pessoas na linha de frente desta tarefa monumental estão pedindo paciência. A questão para a União Europeia, que prometeu assentar 160 mil pessoas ao longo dos próximos dois anos, é se paciência é suficiente.

“Esperamos que o processo comece a acelerar”, disse Eugenio Ambrosi, diretor regional do escritório regional europeu da organização. “A máquina é como se fosse a diesel. Demora um pouco para pegar.”

A crise dos imigrantes está nas primeiras páginas europeias há alguns anos. Antes das multidões nas fronteiras nos Bálcãs ou nos portos gregos, havia um fluxo constante de embarcações cheias de imigrantes chegando à Sicília. Antes disso, havia o acampamento em Calais, no norte da França, conhecido como “a selva”, de onde os imigrantes tentam atravessar o Canal da Mancha até o Reino Unido.

Há dois meses, o governo francês anunciou finalmente um programa para reduzir a pressão em Calais e transferir os imigrantes para 70 centros de recepção em outros locais na França.

Christian Salomé, que dirige uma caridade local, L’Auberge des Migrants, disse que é cedo demais para quantificar precisamente o fluxo de pessoas que saem do acampamento de Calais, mas ele estimou que a população da selva caiu de 6 mil para 5 mil desde outubro.

Mas realocar os imigrantes não é fácil. Segundo o jornal “Le Monde”, dos 23 imigrantes que foram transferidos em novembro de Calais para um centro de recepção na cidade de Langres, a cerca de 290 quilômetros a sudeste de Paris, apenas 15 permanecem, entediados, desocupados e frustrados com a burocracia.

Dentre os que partiram, alguns podem ter voltado para Calais, segundo os imigrantes entrevistados pelo “Le Monde”.

“A permanência deles nos centros depende de muitos fatores –a qualidade do pessoal, o calor humano que encontram”, disse Christian Salomé em uma entrevista por telefone.

Para os imigrantes que chegaram a Calais na esperança de seguirem para o Reino Unido, a transferência para cidades provinciais na França provavelmente não é uma solução de longo prazo. Muitos continuarão tentando chegar aos países onde esperam obter uma resposta mais rápida ao seu pedido de asilo, contar com melhores oportunidades de emprego ou uma chance de se juntarem a parentes.

Segundo Ambrosi, os imigrantes estão cientes das abordagem altamente diferentes para lidar com os requerentes de asilo entre os países europeus, assim como das diferentes chances de encontrar emprego. Sem causar surpresa, elesdesejam ir para onde sentem que serão mais bem recebidos.

“Cada um dos países da UE tem sua própria política, seu próprio mecanismo, e os requerentes de asilo sabem muito bem dessa situação”, ele disse.

Até que a União Europeia adote uma política uniforme para a imigração, ele disse, o fardo dos países “receptivos” crescerá, aumentando ainda mais as tensões com seus vizinhos mais relutantes e entre suas próprias populações.

A França, que se comprometeu a aceitar 30 mil dos 160 mil refugiados presentes nos países da “linha de frente”, Grécia e Itália, está tentando fazer sua parte, mas o ritmo é lento: a expectativa é de que cerca de 900 imigrantes sejam realocados aqui formalmente até o final de janeiro, segundo o Ministério do Interior.

Enquanto isso, mais imigrantes continuam chegando à Europa, exigindo doações adicionais por parte dos 162 países membros da Organização Internacional para as Migrações. A organização viu seu orçamento operacional para a Grécia triplicar desde 2014.

“Nós estamos avançando na direção de uma resposta mais uniforme”, disse Ambrosi. “Estamos seguindo na direção certa, mas o tempo é essencial.”

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