Recessão faz economia de 12 estados e do DF retroceder seis anos
Por - em 8 anos atrás 444
Os dois anos de recessão que o país amargou em 2015 e 2016 fizeram a economia de 12 estados mais o Distrito Federal (DF) retroceder ao patamar do início da década. É o que mostra estudo da Tendências Consultoria Integrada, obtido pelo GLOBO. De acordo com as projeções do economista Adriano Pitoli, o Produto Interno Bruto (PIB) de todas as 27 unidades da federação encolheu neste biênio. E, para 13 delas, o tombo foi tão grande que anulou a expansão vivenciada entre 2011 e 2014. Ou seja, o PIB desses estados e do DF está hoje de um tamanho menor do que o registrado ao fim de 2010.
Segundo os cálculos da Tendências, as perdas mais expressivas ocorreram nos quatro estados do Sudeste (São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais), no Rio Grande do Sul e Paraná, no Amazonas, Rio Grande do Norte, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e na Bahia, além do Distrito Federal. Ou seja, o estudo da Tendências mostra que a recessão que atingiu o Brasil foi disseminada, afetando tanto as regiões mais ricas do Sudeste e do Sul, como estados do Nordeste. Os números oficiais dos PIBs estaduais são medidos pelo IBGE, mas os últimos dados disponíveis são de 2014.
Para Pitoli, o denominador comum dessa queda generalizada de PIB foi a má condução da política econômica brasileira:
— Os estados que tinham uma dinâmica econômica atrelada às políticas do governo, que eram insustentáveis, de estímulo ao consumo, de um BNDES agigantado e de investimentos puxados por estatais, como a Petrobras, terão de fazer um esforço maior para voltar a se recuperar. É o caso de Pernambuco e do Rio de Janeiro.
RIO ENCOLHE 7,2% E RECUPERAÇÃO DEVE DEMORAR
O Rio de Janeiro, cujo PIB encolheu 7,2% em dois anos, de acordo com o estudo, tem um dilema ainda maior, devido à crise de suas contas públicas e ao que o economista classifica como um legado perverso deixado pelos Jogos Olímpicos:
— Gastou-se muito tempo e muito dinheiro em investimentos que agora não se consegue tornar viáveis.
A Secretaria de Estado de Fazenda do Rio disse, em nota, que, com exceção do setor de serviços, cujo desempenho no estado começou a piorar no segundo semestre de 2016, todos os outros setores de peso na economia regional não só apresentaram grandes quedas a partir de meados de 2015, como tiveram desempenho pior do que a média no país: “O que mostra a dificuldade ainda maior para o Rio de Janeiro enfrentar uma das maiores crises já verificadas no Brasil”.
Amazonas e São Paulo, dois estados bastante industrializados, e portanto mais sensíveis aos ciclos econômicos, tendem a ter uma recuperação mais acentuada assim que a economia do país voltar a crescer, preveem analistas. Marcelo Souza, superintendente adjunto de Planejamento da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), polo industrial responsável por 92% da receita do estado do Amazonas, diz que a recessão levou o complexo a demitir 30 mil pessoas:
— Em casos de recessão, as empresas do polo reduzem os quadros momentaneamente, para manterem as plantas em funcionamento. São sempre as últimas a entrar na crise e continuam se mantendo fortes, porque têm incentivos fiscais garantidos em Constituição. Mas, como 95% do faturamento delas vêm do mercado interno e a demanda caiu muito, as demissões foram necessárias.
AMAZONAS SOFRE COM CRISE NA ZONA FRANCA
Segundo Souza, como o setor industrial no Amazonas é vinculado diretamente ao comércio e serviços, o desemprego na Zona Franca provoca um efeito dominó na economia do estado. Ele garante, no entanto, que desde maio as indústrias do polo já voltaram a contratar. O quadro atual é de cerca de 80 mil funcionários nas 600 empresas da Zona Franca e a estimativa é que encerrem 2017 com adição de outros 20 mil trabalhadores. Em sua melhor fase, o complexo chegou a ter 130 mil funcionários. De acordo com o estudo da Tendências, o Amazonas teve a maior queda acumulada de PIB (12,2%) nos anos de 2015 e 2016.
A economia paulista padece por razão semelhante. Segundo o estudo da Tendências, o recuo acumulado em 2015 e 2016 foi de 6,9%.
— O peso da indústria é muito grande na economia do estado, apesar do setor de serviços já a ter ultrapassado. E, como os dois motores do setor, bens de consumo duráveis e de capital, são muito sensíveis ao crédito e ao emprego, é comum que retraia em momentos de recessão, desencadeando um efeito negativo em outros setores e segmentos atrelados – analisa André Grotti, responsável pela Assessoria de Política Tributária (APT) da Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo.
No Nordeste, a forte seca que castigou a região nos últimos anos também derrubou a economia. Segundo Alan Malinski, assessor técnico da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), uma das regiões mais afetadas foi a do Matopiba, que inclui áreas de plantio de soja, milho e algodão do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. Mesmo com aumento da área plantada e investimentos em tecnologia, esses estados tiveram quedas no valor bruto da produção entre 8% e 44% na safra 2015/2016. Como a expectativa é de colheita recorde de grãos este ano (215 milhões de toneladas) Pitoli acredita que essas unidades da federação têm um possibilidade de recuperação melhor do que os outros estados.
— Este ano, com as chuvas regularizadas, o Matopiba deve produzir entre 12 e 20 milhões de toneladas de grãos, voltando a ser responsável por 9% a 10% da safra brasileira — reforça Malinski.
Frederico Cunha, gerente das Contas Regionais do IBGE, lembra que na década anterior à crise, estados do Nordeste, Centro-Oeste e Norte vinham crescendo acima da média do PIB brasileiro, que entre 2002 e 2014 expandiu cerca de 3,5% ao ano.
— O desenvolvimento do Nordeste foi favorecido pelo aumento real do salário mínimo e da renda total, pelo sistema de proteção social do governo Lula e por governos estaduais saudáveis, o que aumentou a demanda por serviços e a arrecadação de impostos nesse período — explica Cunha.
NO ESPÍRITO SANTO, SAMARCO DERRUBA PIB
Como Sul e Sudeste são responsáveis por 71% do PIB nacional, têm taxas mais próximas ao resultado Brasil, complementa o gerente do IBGE.
O economista da Universidade de Brasília Newton Marques destaca que, por serem pouco industrializados, Norte e Nordeste têm economias de baixo dinamismo:
— Não há efeito de encadeamento nem para frente, nem para trás. A administração pública tem peso grande na economia dessas regiões.
O Espírito Santo teve o segundo pior desempenho no biênio da recessão. Seu PIB recuou 11,5% em 2015 e 2016, só Amazonas teve um resultado pior (-12,2%). A economia capixaba foi duramente afetada pelo desastre da Samarco, em Mariana (MG), que culminou com a paralisação das atividades da mineradora, que ainda está inoperante. As usinas de pelotização da Samarco ficam em Anchieta (ES).
A indústria extrativa representa quase um quarto da economia capixaba, de acordo com Andrezza Rosalém, diretora-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves, que produz e organiza dados voltados ao desenvolvimento socioeconômico do Espírito Santo. Para se ter uma ideia do peso da empresa na economia do estado, o instituto estima que, se a Samarco já tivesse retomado os trabalhos, o PIB capixaba cresceria 10% este ano. Mas o resultado deve ser bem pior. Mesmo se as expectativas de a empresa retomar as atividades no segundo semestre se concretizarem, a economia do ES ainda recuará 0,5% em 2017.
— Temos uma atividade pautada em commodities, cujos preços caíram muito, e somos uma economia muito aberta, então sentimos o impacto dos problemas nos demais estados — acrescenta Andrezza.
Nas contas da Tendências, em 2017 todas as regiões do país voltarão a crescer. No Sul, a expansão será de 0,4% e no Sudeste, de 0,5%, próximo ao projetado pela consultoria para o Brasil (0,7%). Já o Centro-Oeste deve crescer 1,4% e o Nordeste 2%, ambos puxados pela expectativa de safra recorde. Em razão da previsão de inauguração de um projeto de US$ 14,3 bilhões da mineradora Vale no Pará, o PIB do Norte deve expandir 2,9%, prevê a consultoria.
Redação