Tempo e relação com Congresso são desafios para equipe de Temer, dizem analistas
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O anúncio da equipe ministerial do presidente da República interino Michel Temer, com 23 nomes, veio cercado de expectativas e incertezas, segundo o cientista político da Universidade de Brasília (UnB) Ricardo Caldas.
Para o professor, o Brasil vive um momento delicado com instalação de um governo fora de um período normal, muito semelhante ao montado por Itamar Franco em1992, após o impeachment do ex-presidente Fernando Collor. “Nessas circunstâncias, a capacidade de escolha de quem assume [os ministérios] diminui bastante porque a prioridade, como foi a de Temer, passa a ser um governo de união nacional”, disse.
No entanto, segundo Caldas, as escolhas de Temer não foram só políticas. “Eu diria que é uma combinação de pessoas de perfil técnico com outras de perfil predominantemente político”. Para resolver a inabilidade de diálogo, uma marca da presidenta afastada Dilma Rousseff, segundo o cientista político, Temer priorizou um ministério com nomes com trânsito no Congresso Nacional e com capacidade de diálogo, articulação e negociação.
Um dos exemplos, segundo o professor da UnB, é o novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que é técnico, com experiência de 30 anos no mercado, mas, ao mesmo tempo, tem experiência pública adquirida como presidente do Banco Central no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Meirelles tem perfil para tomar medidas duras que serão necessárias, mas com capacidade de negociação”, analisou.
Fisiologismo
Na avaliação da cientista política da Universidade Federal de São Carlos (UFScar) Maria do Socorro Sousa Braga, o ministério formado por Temer é uma “bancada fisiológica”, montada para ajudar a aprovar projetos de interesse do governo no Congresso Nacional.
“Ele [Temer] tentou contemplar os principais quadros que o apoiam e dão força para que ele tenha uma base no Congresso Nacional que ajude a votar as medidas que ele quer implementar, como a Ponte para o Futuro”, disse Maria do Socorro, referindo-se ao programa do governo do PMDB para a área econômica.
Para a especialista, o fato de o ministério ter integrantes envolvidos em denúncias da Operação Lava Jato da Polícia Federal é um “descalabro” com a sociedade. “Se de fato a Lava Jato apurar todos os partidos envolvidos, vai dar problema para a frente.”
Mulheres
Sobre o fato de Michel Temer ter escolhido um ministério sem mulheres e sem negros, Ricardo Caldas disse que é cedo para falar em retrocesso nas políticas públicas voltados para esses setores. “Falar em retrocesso no caso de um governo que acabou de assumir seria uma avaliação prematura e mal feita.”
Já Maria do Socorro Sousa Braga fez uma crítica mais dura à falta de diversidade da equipe ministerial do presidente interino. “Perdemos completamente o perfil que se tinha, de um gabinete mais plural do ponto de vista representativo das diferenças sociais e de gênero”.
Congresso
Para o cientista político da UnB, Temer terá que apresentar rapidamente resultados, sem cometer erros, sob o risco de perder apoio político e das ruas.
“Nessa primeira etapa, apesar da urgência de algumas medidas, se elas forem duras demais, Temer corre o risco de perder aliados”, disse Caldas.
O sociólogo e professor de História da Universidade Federal da Paraíba Flávio Lúcio Vieira avalia que a composição do governo Temer vai, em um primeiro momento, facilitar as negociações com o Congresso Nacional, mas pode aumentar a insatisfação da sociedade.
“A tendência é que, do ponto de vista estritamente parlamentar, pelo menos no início do governo, haja uma maior estabilidade. Mas, do ponto de vista da sociedade, a tendência é acirrar ainda mais os conflitos. Na medida em que o governo ganha cara e deixa de ser uma abstração, as insatisfações começam a ficar mais explícitas.”
Agência Brasil