
Justiça Federal em Operação Última Fase desencadeada nesta quinta (2), revelou detalhes de fraude em concursos públicos
Por Redação com Patos Online - em 8 minutos atrás 1
A Justiça Federal, em decisão que fundamentou a Operação Última Fase, desencadeada nesta quinta-feira (2), revelou detalhes de um esquema de fraude em concursos públicos investigado pela Polícia Federal a partir da cidade de Patos, no Sertão da Paraíba. De acordo com o relatório, o grupo teria envolvido familiares e comparsas, atuando de forma organizada, estruturada e com divisão de tarefas, oferecendo “serviços” que iam desde o acesso antecipado a provas até a utilização de pessoas para realizar os exames no lugar dos candidatos.
As investigações começaram após denúncia anônima recebida pela unidade de inteligência da PF, que apontava para um esquema sofisticado de compra de gabaritos e repasse de respostas durante a aplicação das provas. A partir da verificação inicial, a Polícia requisitou à banca organizadora os gabaritos dos suspeitos e constatou coincidências idênticas nas respostas, o que caracterizou fraude coletiva.
Como funcionava o esquema
Segundo as investigações, o grupo criminoso cobrava valores que chegavam a R$ 500 mil para garantir a aprovação de candidatos em certames nacionais, como o Concurso Nacional Unificado (CNU) e seleções de órgãos federais e estaduais. Entre eles, estão os da Polícia Civil de Pernambuco, Polícia Civil de Alagoas, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil. Também foram identificadas tentativas de fraude no concurso da própria Polícia Federal e até em exames da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
As provas apreendidas mostraram que os investigados recebiam antecipadamente os gabaritos oficiais e repassavam as respostas aos “clientes” horas antes da aplicação. Em alguns casos, terceiros faziam a prova utilizando documentos falsos.
Interceptações telefônicas e mensagens de aplicativos reforçaram o modus operandi. Entre os métodos utilizados estavam:
Questões das provas eram fotografadas e enviadas para a quadrilha, que elaborava as respostas.
Os candidatos recebiam as soluções pouco antes ou durante o exame.
Uso de pontos eletrônicos e celulares para comunicação durante o exame.
Substituição de candidatos, com pessoas se passando por inscritos mediante falsificação de documentos.
Em algumas situações, houve necessidade de desativar câmeras de segurança e corromper fiscais de sala e vigilantes para viabilizar a fraude com acesso às provas antes da abertura oficial dos malotes.
Além das fraudes, o inquérito aponta movimentações financeiras suspeitas ligadas ao grupo. Depósitos em espécie de quase meio milhão de reais foram identificados, além de transferências bancárias entre investigados, usadas para encobrir a origem dos valores recebidos. Conversas apreendidas também revelaram dívidas milionárias relacionadas ao pagamento pelo acesso às provas.
Provas coletadas
Com autorização da Justiça, a PF deflagrou medidas cautelares que incluíram buscas e apreensões, quebras de sigilo bancário e telemático, além de interceptações telefônicas. O material apreendido, como celulares e registros digitais, trouxe novas provas sobre o funcionamento da fraude, revelando até mesmo valores cobrados pelo serviço. Em um dos diálogos interceptados, ficou registrado que o “pacote” para garantir aprovação em concurso com salário de até R$ 23 mil poderia custar meio milhão de reais.
A decisão judicial destaca que buscas e apreensões em celulares e computadores forneceram elementos-chave da investigação. Entre os materiais encontrados estão:
Áudios em que integrantes comentam ganhos com o CNU.
Conversas sobre a cobrança de valores em dinheiro e bens, como motocicletas.
Fotografias de provas durante a aplicação, evidenciando a atuação direta dentro das salas.
Gabaritos idênticos de dezenas de candidatos, o que elimina a possibilidade de coincidência.
As apurações mostraram que parte dos beneficiados era composta por familiares de integrantes da organização, residentes na cidade de Patos. Vários parentes próximos foram aprovados em concursos de alto nível, como para o cargo de Auditor Fiscal do Trabalho, utilizando o esquema fraudulento.
Outros nomes surgiram a partir da análise de nuvens virtuais, comprovantes de pagamentos e listas de classificação, ampliando a rede de investigados e “clientes” do esquema.
Na decisão, o juiz responsável destacou que o caso atinge diretamente a credibilidade do concurso público, considerado um dos principais instrumentos de acesso igualitário ao serviço público no Brasil.
O magistrado classificou as condutas apuradas como “assombrosas”, ressaltando que os elementos colhidos demonstram que a organização criminosa atuava de forma contínua e lucrativa, colocando em risco a lisura dos certames e a confiança da sociedade no sistema.
Operação Última Fase
Na manhã desta quinta-feira (2), a Polícia Federal deflagrou a Operação Última Fase, com o objetivo de desarticular a organização criminosa especializada em fraudes a concursos públicos em diversos estados do Nordeste.
A ação foi realizada com o apoio do Ministério Público Federal e cumpriu 12 mandados de busca e apreensão e três mandados de prisão preventiva contra suspeitos considerados líderes do esquema, além de diversas medidas cautelares, como afastamento de cargos públicos e sequestro de bens.
Em Patos, no Sertão da Paraíba, um dos investigados foi preso preventivamente. Também houve cumprimento de mandados em Pernambuco e Alagoas.
As investigações apontaram fraudes no Concurso Público Nacional Unificado (CPNU) de 2024 e em certames da Polícia Civil de Pernambuco, Polícia Civil de Alagoas, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil.
Segundo a PF, os investigados foram excluídos dos processos seletivos e afastados dos cargos públicos já ocupados. Eles poderão responder por crimes de fraude em certame de interesse público, lavagem de dinheiro, organização criminosa e falsificação de documento público.