Cuiteense se destaca na Agricultora familiar como microempreendedora no Rio de Janeiro
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Aos 71 anos de idade, a agricultora familiar, doceira e microempreendedora rural Juliana de Medeiros Diniz já fez e foi de tudo um pouco. Dona Juju, como é mais conhecida, nunca havia saído de Cuité, no agreste paraibano, quando em 1966, ainda muito jovem, tomou o rumo do Rio de Janeiro para acompanhar o marido em busca de oportunidades na vida.
Para a moça do sertão que sonhava em se aventurar pelo mundo, ter sido abandonada logo em seguida pelo ex-companheiro, na cidade grande, sem experiência de vida, e com três filhos pequenos para criar, foi o estímulo que faltava, embora indesejado, para por à prova a mulher de fibra e empreendedora que não imaginava ser.
A urgência de garantir o sustento dos filhos não deixou tempo para que ela sofresse o drama do desamparo. Era preciso seguir adiante. E foi com esse espírito que ela encarou as dificuldades da nova vida. Sem nunca ter feito nada antes senão trabalhar a terra, costurar e cuidar dos filhos, ela teve que agarrar as oportunidades que o destino lhe ofereceria.
Disposição para trabalhar
“Foi aí que começou a minha aventura, de verdade”, brinca Juliana Diniz, ao falar sobre seu histórico profissional, que teve início na construção da Ponte Rio-Niterói, nos anos 70, quando trabalhou como garçonete, copeira, ajudante e chefe de cozinha, no refeitório do canteiro de obras da empreiteira responsável pelo projeto.
De domingo a domingo ela cuidava da alimentação de mais de mil homens, entre operários e engenheiros, e chegava em casa sempre depois das dez da noite. “Eu não tinha tempo nem para os meus filhos. Mas valeu a pena pois foi um primeiro contato com as responsabilidades de uma cozinha profissional”, diz Dona Juju, sobre a experiência que lhe seria útil no futuro.
Em seguida ela foi costureira, vendedora ambulante de café, assistente de animador e propagandista em uma emissora de rádio, vendedora de títulos de capitalização, cuidadora de idosos e faxineira, entre outras atividades. “Tive tantos empregos na minha vida que nem lembro mais de todos”, comenta.
Volta às origens
Após anos de trabalho duro nas mais diversas ocupações, Juliana Diniz já havia garantido a formação dos filhos – “aos trancos e barrancos”, como costuma dizer -, quando o acaso possibilitou que ela retomasse a agricultura como meio de vida.
Em 1996, ela foi convidada para tomar conta de um sítio de dois hectares, pertencente a um amigo estrangeiro, localizado em Cachoeira Grande, em Piabetá, na Baixada Fluminense. “Um amigo meu, alemão, comprou esse sítio. Depois ele teve que voltar para a Europa e me pediu para tomar conta. Aceitei e estou aqui até hoje”, explica.
Instalada no novo endereço, ela foi trabalhar na cozinha comunitária do Valão Preto, próxima ao sítio, onde botou em prática os dotes culinários que possuía e que havia aprimorados em um curso de especialização em doces, feito no Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). “Então comecei a me dedicar aos doces. Fizeram sucesso e lá mesmo já comecei a fazer minha própria clientela”, diz Dona Juliana.
Sucesso com o empreendedorismo
Algum tempo depois, ela deixou a cozinha onde trabalhava e tomou a decisão que mudaria sua vida. Iria tornar-se uma microempreendedora individual e trabalhar por conta própria no ramo de alimentação. A agricultora empenhou um pequeno imóvel que possuía na Zona Oeste do Rio e, com o dinheiro e o auxílio de amigos e organizações sociais, montou o que chama de “minha própria pequena cozinha comunitária” no sítio onde mora.
Há cinco anos ela trabalha diariamente na cozinha batizada de “Colher de Pau”, onde produz, com a ajuda de três auxiliares, também agricultoras, 21 tipos de geleias em compota, com sabores que vão desde a popular goiaba até combinações mais exóticas e sofisticadas, como as de manga com pimenta e laranja com especiarias.
Cozinheira habilidosa e criativa na elaboração de receitas, ela sabe aproveitar toda a variedade oferecida pelas mais de 90 espécies frutíferas, legumes e hortaliças que cultiva no seu terreno para oferecer aos clientes outras iguarias, como bananada sem açúcar, goiabada cascão, banana-passa e farinhas de cascas e claras de ovos, jiló, berinjela, quiabo, inhame, batata doce e de maracujá.
O sabor e a diversidade dos alimentos preparados na cozinha de Dona Juju fizeram fama no Rio de Janeiro e já conquistaram consumidores até em lugares bem mais distantes, como nos estados do Amazonas, do Paraná, de Pernambuco e do Ceará.
Merenda escolar, feiras e internet
A empreendedora rural costuma participar de feiras orgânicas e eventos da agricultura familiar para divulgar e vender seus produtos. “Estou sempre na feira orgânica da Uerj (Universidade do Estado do RJ) e em eventos maiores e nacionais. Inclusive participei de todas as edições da Feira Nacional da Agricultura Familiar (Fenafra)”, destaca.
Estudantes de três escolas da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro também consomem os doces da Dona Juju em suas merendas, já que há três anos sua empresa rural vende alimentos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae). “Comecei com só uma escola. E agora atendo mais dois colégios por meio do Pnae. Pretendo continuar trabalhando com as compras institucionais porque são renda garantida para o meu negócio”, diz Juliana Diniz.
Mas a maior parte das vendas realizadas pela “Colher de Pau” é feita na Rede Ecológica (redeecologicario.org), movimento social de consumidores do Rio de Janeiro que usam a internet para comprar produtos agroecológicos e orgânicos diretamente dos pequenos produtores rurais.
“Vendo mais pela Rede Ecológica. Recebo as encomendas e levo os produtos até eles. Lá as cestas são montadas exclusivamente com produtos orgânicos e ecológicos e entregues aos consumidores que as encomendaram pela internet”, explica.
Orgânicos
Dona Juju faz questão de salientar que toda a material-prima utilizada na produção dos doces e demais alimentos processados em sua cozinha é cultivada, de forma orgânica, no próprio sítio onde vive. “Tudo é plantado aqui mesmo. Minha produção é 100% natural e possui certificação de origem orgânica. Aqui nunca entrou produto químico”, destaca.
A qualidade dos produtos e do trabalho de Juliana Diniz e sua equipe de ajudantes é medida não somente pelo número de clientes que mantém a cozinha sempre funcionando, mas também por premiações, como o segundo lugar conquistado na categoria empreendedora individual, no evento Sebrae Mulher de Negócios de 2015.
“Esse tipo de reconhecimento me deixa muito feliz. Mas o que me recompensa e realiza mesmo foi ter voltado às minhas origens. Trabalhei e continuo trabalhando muito. Tive muitos empregos que me deram aprendizado e boas lembranças, mas o que eu mais gosto mesmo na vida é de ser agricultora familiar!”, conclui Juliana de Medeiros Diniz.
Fonte: Sidney Dantas / DFDA-RJ