Cubati, Cidade Irmã de Picuí

Por Álisson Pinheiro - em 2 dias atrás 2

De todas as cidades que surgiram do antigo e vasto município de Picuí, Cubati foi uma das que mais progrediram. Chamada de Canoas no início, a localidade retomou o nome Cubati em 1943, corrigindo um erro histórico. A denominação original, que remonta ao final do século XVII, refere-se à área onde hoje está a nascente do rio Seridó, que empresta seu nome à (nossa) bela e pedregosa região que se estende pela Paraíba e pelo Rio Grande do Norte.

O nome incomum é uma homenagem ao Cacique Cumaty, um príncipe indígena citado em relatos históricos. Filho do grande chefe Janduí, Cumaty foi um dos protagonistas da trágica guerra de mais de uma década contra os colonos. A fama que adquiriu foi tamanha que seu nome ficou perpetuado no solo que habitava, registrado em inúmeras doações de terras na versão modificada de “Cubaty”.

A região de Cubati é marcada por terras férteis para o cultivo do agave e do algodão. Antes mesmo da formação do povoado, já existiam propriedades estabelecidas sob a influência de Pedra Lavrada. A ocupação do território foi rápida, impulsionada pela pioneira Estrada do Seridó, que conectava Campina Grande aos confins do Ceará, passando por Olivedos, Cubati e a vila de Santo Antônio (atual Seridó). Por essa via, trafegavam colonos, mercadorias e até os revolucionários liderados por Frei Caneca.

O desenvolvimento urbano do povoado foi tardio, estimulado por Manoel Maria de Barros. Ex-escravizado, ele custeou a construção de uma modesta capela em 1910, que recebeu a bênção do bispo Dom Adauto no ano seguinte. No entanto, o desenvolvimento do povoado só se tornou viável a partir de 1915, graças à doação de um patrimônio territorial feita pela então viúva do fundador.

Assim que a capela foi erguida, Manoel Maria iniciou esforços para a criação de uma feira livre, uma forma comum de impulsionar povoados. Contudo, a iniciativa não prosperou devido ao movimento comercial já consolidado na vizinha vila de Santo Antônio. A tradição oral relata que Manoel Maria de Barros tomou a iniciativa de construir a igreja por razões de consciência, após atos violentos que cometeu a mando de seu senhor e benfeitor, Joaquim Gurinhém.

A revitalização da feira ocorreu com a chegada do carismático e altivo Simão Patrício Pirer, conhecido como Padre Fileto. Parente próximo do então governador da Paraíba, Solon de Lucena, que administrou o estado entre 1920 e 1924, o padre exerceu a liderança religiosa em Pedra Lavrada no mesmo período. Sua personalidade exuberante logo o colocou em conflito com o líder Vicente Vasconcelos, levando-o a usar sua influência política contra este e seu grupo.

Celebrando missas na pequena igreja de Canoas, Padre Fileto logo entendeu as aspirações da comunidade, sobretudo o anseio por uma feira. Ele percebeu que liderar um projeto para fortalecer o comércio local provocaria a elite de Pedra Lavrada, que o hostilizava, e por isso empenhou uma energia imensa para realizar esse plano.

Para reviver a feira, a tarefa primordial foi convencer os vendedores itinerantes a negociarem em um ponto fixo, ao lado da igreja, aos sábados. A abordagem foi um sucesso e a feira ressurgiu, tornou-se centenária e resiste até o presente. Sua luta para restabelecer o comércio de Cubati revela uma afeição genuína pela localidade e por sua população.

A nova feira de Canoas/Cubati foi inaugurada em 2 de fevereiro de 1924, com missa em ação de graças, confissão e comunhão. Era o dia de Nossa Senhora da Luz, padroeira de Pedra Lavrada, e a escolha da data, provavelmente, não foi mera coincidência. A solenidade religiosa e a novidade atraíram uma grande multidão. Padre Fileto fez um discurso emocionado, vaticinando que Cubati se tornaria uma grande cidade.

Com o constante fortalecimento da feira, a atração de novos moradores e comerciantes de outras localidades se intensificou. Este cenário incentivou o incipiente povoado, que também foi beneficiado por um excelente momento econômico. Paralelamente, o declínio comercial da vila de Santo Antônio, então assolada pela violência, também favoreceu essa expansão.

A pressa do padre em restabelecer a feira foi premonitória, pois em breve ele seria transferido para Ipiaú, no sul da Bahia, seu destino final. Na Bahia, ele também se destacou como um benemérito, sendo lembrado e homenageado até hoje.

A década de 1930 ficou marcada por uma transformação ousada na malha urbana de Cubati. A demolição da pequena igreja construída por Manoel Maria foi o ponto de partida para essa grande mudança. O plano urbanístico da cidade foi alterado para acomodar um novo e imponente templo, concluído em 1937, resultando em ruas mais amplas e retilíneas que prepararam o assentamento para um desenvolvimento sustentado. A Rua São Severino foi a mais impactada, com sua extensão e largura triplicadas, enquanto novas ruas foram traçadas ao redor dessa artéria central.

Cubati pôde contar com o afeto de José Medeiros, o poeta que imortalizou a história local em versos, tornando-se o primeiro cronista da nova cidade. Dada a relevância da cantiga de viola no século XX, o momento culminante das festividades pela emancipação cubatiense foi um memorável duelo de violeiros. É um grande orgulho que José Alves Sobrinho, um dos mais renomados repentistas da era de ouro da cantoria e o mais exímio pesquisador do gênero, tenha nascido e crescido nas proximidades.

Entre os filhos ilustres da cidade, destaca-se Miguel de Souza. Formado em Engenharia em Campina Grande, foi trabalhar em Rondônia, onde se tornou empresário, deputado federal e vice-governador. Seu nascimento aconteceu em 1953, época em que Cubati ainda era parte do imenso município picuiense.

Considerando tudo o que foi exposto, pela origem paraibana e seridoense compartilhada, Picuí e Cubati permanecerão sempre irmanadas.

    Sem tags.