Faz tempo que o consumismo chegou à Picuí
Por - em 5 anos atrás 3826
É fato comprovado que as pessoas prósperas raramente conseguem transferir para sua descendência os valores e atitudes que as enriqueceram. É uma situação que se resume num velho ditado: “pai rico, filho nobre, neto pobre”. Basta observar o “microcosmo picuiense” onde muitas famílias influentes do passado declinaram, enquanto que outras, pobres e inexpressivas a até bem pouco tempo, tiveram uma ascensão material e intelectual extraordinária.
A raiz deste problema, além da dinamicidade da vida agindo como uma roda em constante movimento, é o consumismo, a compra demasiada de produtos desnecessários. A primeira geração que adquiriu a riqueza era frugal e simples nos gostos materiais, mas sua descendência logo adquire hábitos caros e uma infinidade de luxos, que tendem a se tornar necessidades; este “fenômeno gastador” corrói qualquer patrimônio ao longo dos anos, pois os filhos e netos dos “ricos” costumam trabalhar menos e ter maiores despesas. E estes gastos tendem a aumentar com o trabalho dos publicitários, muito hábeis para orientar o gosto das pessoas por esse ou aquele produto, jogo de marketing feito tão somente no interesse dos produtores e nunca nos que consomem. O resultado é um endividamento crônico e (aparentemente) insolúvel.
É fato de que nós gastamos demais com o que não é necessário, muitas vezes para impressionar pessoas as quais não gostamos. Observo que quase ninguém se endivida para pagar o essencial, mas sim, por automóveis, roupas, eletrodomésticos, celulares, sapatos e bolsas caras, joias e outros materiais luxuosos, dos quais ninguém necessita de verdade. Poucos conseguem perceber que diante do dinheiro transitório e incerto que recebem, as despesas são constantes e certas durante a toda a vida, num ir e vir como as águas da Maricota !!
Em um mundo onde poupar pode nos libertar e enriquecer, a maioria se mantém refém dos próprios hábitos de gastar que pode ser controlado por meio da conscientização e da educação financeira. Sim, não podemos controlar completamente o quanto ganhamos e as políticas do governo que mexem com nossas finanças, mas é possível o controle sobre o quanto decidimos gastar; se não podemos controlar a economia nacional, podemos controlar a nossa economia doméstica!! Daí porque não devemos comprar o que não precisamos por mais barato que seja, fato já alertado pelos homens da Antiguidade, neste sentido: “o que não precisamos, por um centavo é caro”. Portanto, é possível prevenir a pobreza reduzindo os nossos gastos com produtos desnecessários ou supérfluos, restringindo as compras de bens de pouca utilidade antes que os apertos financeiros nos obriguem a fazê-lo.
O problema é que quase ninguém se contenta em viver com menos do que possui, talvez porque poucos consigam avaliar a riqueza pessoal pelas necessidades reais que são, basicamente, comida saudável, um teto despojado e roupas simples. Por isso é que acredito piamente nesta descrição de riqueza: rico é aquele que se contenta com o (pouco) que tem, e não o que vive sacrificando seu tempo, sua saúde e seu espírito por mais dinheiro, esquecendo-se de viver ou morrendo antes do tempo, pelo excesso de trabalho e de estresse (ou na cadeia, se for corrupto). Ser rico de verdade é não se preocupar em adquirir mais bens, e sim em diminuir a cobiça de ter mais e mais para entesourar ou comprar o que não é necessário, ao custo do tempo precioso e fugaz.
Os sobrados suntuosos que sobreviveram à sanha imobiliária na “terrinha” comprovam isso, pois seus proprietários originários foram esquecidos e suas riquezas dilapidadas não só pelo tempo, mas também pelos gastos excessivos de sua descendência. Um desses “senhores de sobrado” costumava falar para minha avó: “-Comadre, eu sou rico, rico, rico !!!” Sua riqueza não sobreviveu aos gastos desenfreados da geração seguinte.
Aristóteles dividiu as pessoas em dois tipos: aquelas que poupam como fossem viver para sempre e as que gastam como se fossem morrer amanhã. Essa constatação é um aviso para buscarmos um meio termo: nem poupar demais o que se tem, nem gastar tudo o que se ganha. Por isso é que, nas nossas orações, nunca deveríamos pedir mais dinheiro ao Criador, e sim, sabedoria e prudência para evitar as tolices que trazem dívidas materiais e envenenam o nosso presente, a verdadeira riqueza que todos possuem e não se dão conta.
Por Álisson Pinheiro
Álisson Pinheiro é Natural de Picuí-Pb, residiu também em Cubati e Baraúna, tornando-o um autêntico filho do Seridó e do Curimataú paraibano. É formado em Direito pela UFPB, com Pós-Graduação em Direito do Trabalho. Trabalha no TRT-AL onde vive na capital Maceió.