NOTÁVEIS DO SERIDÓ – O BARÃO DE ARARUNA
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Estevão José da Rocha nasceu na casa grande da Fazenda Serra Branca, nas proximidades de Pedra Lavrada, em 1805. O seu nascimento coincidiu com um período de profundas mudanças, como o surgimento da lavoura algodoeira e a saída do nosso Seridó da influência de Caicó e Pombal, que foram substituídas por Areia e Bananeiras. E quando ele estava alcançando a maioridade o Brasil se tornou independente!
Mais de um século havia se passado desde a instalação das primeiras fazendas e estava em curso um momento mais favorável para a vida no interior. A população aumentou tanto que Cuité e Pedra Lavrada floresceram nas proximidades. Fazia tempo que o Seridó tinha iniciado um período de prosperidade por causa do algodão, cuja lucratividade deixou a pecuária em segundo plano.
Sua mãe era oriunda de Pombal, descendente da família mais importante do sertão paraibano; entre os seus parentes destacava-se Manuel de Arruda Câmara, naturalista de fama mundial, o primeiro que escreveu estudos científicos sobre a caatinga. Ao se casar com o pernambucano Antônio Ferreira de Macedo, tomou posse de terras concedidas ao seu pai no Seridó Paraibano na primeira metade do século XVIII.
Desta união surgiu uma estirpe que mudaria os rumos de Picuí e de todo um espaço geográfico entre Cubati, Frei Martinho e Cuité. Seus filhos foram Antônio, Vicente, José e Estêvão: a descendência do primeiro foi fundamental para a fundação de Picuí e o último tornou-se líder político regional e barão.
Estevão foi se estabelecer em Bananeira, onde aumentou muito os seus bens, enquanto seu irmão, José Ferreira de Macedo, veio habitar nas proximidades da atual Picuí, com a feliz consequência futura da fundação de uma cidade.
Há 150 anos as cidades mais prósperas da Paraíba estavam no Brejo. Todo o Seridó Paraibano era dependente de Bananeiras e Areia em termos alimentares e administrativos. Campina Grande era uma vila inexpressiva e João Pessoa estava ofuscada pela pujança do Recife. Assim, era natural que o jovem Estêvão escolhesse viver em Bananeiras devido as suas oportunidades de crescimento.
A riqueza acumulada e seu senso de liderança naturalmente o conduziram para a política, tendo ele exercido uma influência eleitoral duradoura pelo Partido Conservador, tanto no Curimataú quanto no Seridó. Ele manteve as propriedades herdadas no Seridó Paraibano e seus parentes lideravam a política em Cuité, Pedra Lavrada e Picuí. Com tanto prestígio era natural que Estevão José da Rocha procurasse um título de nobreza para si, o que significava o ápice da ascensão social no tempo de Dom Pedro II.
Tendo atingido todos os requisitos legais, sociais e políticos, ele recebeu o título de Barão, em 1861. Contudo, ele não se mostrou vaidoso porque dispensou viajar à Corte para receber a honraria diretamente das mãos do Imperador. Mas no direito de escolha do nome que queria ser chamado foi criterioso, não escolhendo um nome associado a sua desconhecida Pedra Lavrada natal, nem o de Bananeiras (talvez por soar ridículo). Então preferiu o sonoro epíteto de Barão de Araruna, que na época era uma vila respeitável e em cujas proximidades se localizava a sua propriedade preferida.
Um fato digno de nota, é que durante toda a duração da Monarquia somente cinco paraibanos foram agraciados com as honras do baronato; e ele conseguiu o seu título numa época em que as concessões eram raras, pois anos mais tarde os títulos de barão se proliferaram, por opção política da monarquia que entrou em crise existencial e precisava de apoios.
Exerceu diversos cargos públicos, mas sempre se desvencilhava deles a qualquer pretexto para se dedicar às suas fazendas. Não era um obcecado pela política, mas pelas coisas do campo. Até o fim da vida, manteve a ligação sentimental com o Seridó Oriental Paraibano pois nunca se desfez de suas terras em Pedra Lavrada e Picuí, onde fazia visitas periódicas num dos seus onze cavalos de raça. A morte prematura de um filho querido acelerou a sua morte, que aconteceu em Bananeira no ano de 1876.
Quase um século e meio já se passou desde a sua partida e pouquíssimas pessoas do nosso Seridó se recordam de um homem que foi o mais rico e poderoso de quantos já nasceram nestes baixios, numa prova do quanto é breve a vida humana e que, após a morte, segue-se o inevitável esquecimento.
Alisson Pinheiro