NOTÁVEIS DO SERIDÓ PARAIBANO – O intelectual ANTÔNIO GOMES DE ARRUDA BARRETO
Por Alisson Pinheiro - em 8 meses atrás 321
“Deus viu e enumerou a sabedoria, fazendo chover a ciência e a inteligência e exaltando a honra daqueles que a possuem” (Ecles. 1, 17)
Do nosso pedaço de chão saíram pessoas muito talentosas que conquistaram fama perene na Paraíba e no Brasil. Um caso exemplar é o de Antônio Gomes de Arruda Barreto, nascido nos arredores de Pedra Lavrada no ano de 1857. Sua história vitoriosa demonstra o poder da educação sobre o destino de quem se disponha a trilhar o seu venturoso caminho.
Quando o professor Lordão chegou em Cuité para assumir a escola local (1865) ele se deparou com a imensa inteligência de uma criança que se destacava das demais. Sob sua orientação, Antônio Gomes transcendeu sua vocação intelectual. Um texto anônimo relata essa relação estreita entre professor e aluno. Era uma carta defendendo a atuação do professor Lordão de críticas recebidas, apontando como exemplo da sua excelente atuação no magistério o desempenho brilhante na escola do seu pupilo Antônio Gomes, então com nove anos de idade. Houve uma cerimônia pública na cidade, com banda de música e fogos, somente para vê-lo responder as difíceis questões de latim, gramática e ciências que lhe eram feitas. “A pouca idade do menino, a seguridade com que respondia, e a consciência, do que sabia, movião a todos uma seria admiração”, descreveu o cronista.
E esta inclinação intelectual só fez crescer nos anos seguintes, pois Antônio Gomes se tornou leitor dos livros clássicos e entendedor de idiomas como o francês, espanhol, latim e até de alemão! Para chegar a tal nível de conhecimento, certamente ele deve ter recebido a orientação (e livros) à distância do seu mestre Graciliano Fontino Lordão, já amigo da sua família, que fazia carreira nas escolas do interior paraibano. E o mestre deve ter sido o viabilizador da sua mudança, com apenas 18 anos, para Catolé do Rocha com a missão de orientar a educação dos filhos e protegidos do Coronel Francisco Maia. Em pouco tempo estava assimilado a sociedade local, pois se casou sucessivamente com duas filhas do coronel e, em terceiras núpcias, com uma tia do escritor Ariano Suassuna.
Seu intelecto se ampliou consideravelmente no sertão paraibano. Além de professor, o seu talento encontrou a poesia, o jornalismo e o Direito (mesmo sem ser bacharel, tornou-se promotor, advogado prático e escritor jurídico). Foi redator de jornais importantes da sua época (O Estado da Paraíba e o Mossoroense), colaborou em outros dois (O Combate e O Eco). Escreveu uma gramática latina e um tratado de Direito. Sua obra na seara cultural tornou-se tão notória que lhe valeu a inclusão nas duas maiores agremiações culturais do Estado da Paraíba, a Academia Paraibana de Letras e o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano.
Também foi empreendedor cultural, tendo fundado escolas em Brejo do Cruz (1898) e em Mossoró (1900) que atraíram alunos de vários Estados Nordestinos. A importância destes educandários era imensa, pois eles possibilitavam o acesso aos exames para entrar em cursos superiores, dando oportunidades educacionais inéditas a muitos sertanejos que logo se destacariam como médicos, advogados e outras profissões.
Sua relação com a família do memorável Ariano Suassuna deve ser lembrada. O pai deste, João Suassuna, foi ao mesmo tempo seu filho e cunhado, porque chegou criança junto à irmã que tinha se tornado esposa de Antonio Gomes. Deste recebeu tratamento de filho, esmerada instrução e respaldo político, tanto que se formou Direito pela Faculdade do Recife e se tornou Governador da Paraíba. Esta benéfica influência tornou João Suassuna um homem muito culto, detentor de uma biblioteca que serviu de farol para que Ariano se tornasse um dos maiores escritores brasileiros.
Foi político muito importante durante a República Velha (1889-1930), tendo como amigo pessoal o Presidente Epitácio Pessoa. Tal qual o seu mestre Graciliano Fontino Lordão, também recebeu a honraria do título de Coronel. Começou a carreira parlamentar como deputado constituinte (1891) e chegou a ser prefeito de Brejo do Cruz. Veio a falecer em 1909, com apenas 52 anos, no exercício de mandato. Deixou vasta descendência e trouxe seus irmãos para junto de si.
Foi mais um conterrâneo nobilitado pelos estudos que lhe abriram as portas para uma carreira vitoriosa em todos os aspectos da vida. Seu dinamismo e sabedoria marcaram positivamente uma imensa área sertaneja, porque construiu escolas, educou os jovens e constituiu uma imensa e operante descendência. Por tudo isso é que a sua memória jamais será esquecida, porque é uma fonte de inspiração, um exemplo do quanto a educação pode honrar aos que a ela se dedicam.