O FILÓSOFO MARTIN HEIDEGGER ERA PICUIENSE?

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Martin Heidegger foi um filósofo nascido na Alemanha. Mesmo tendo nascido pobre ele se tornou uma celebridade acadêmica com somente 36 anos. Como tantos intelectuais diante do poder, acreditou em Hitler e chegou a perseguir os acadêmicos judeus na Universidade onde era reitor. Finda a Guerra, foi obrigado a ficar sem dar aulas por uns cinco anos. Porém, seu gênio era grande e aos poucos sua carreira reviveu.

Ele tinha um comportamento muito curioso para a maioria, pois gostava da vida rural, de fazer longas caminhadas para procurar cogumelos, dormia cedo, não gostava de aviões, de música pop e de comida industrializada. Inclusive, nas últimas décadas de sua vida, passava a maio parte do seu tempo dentro de uma cabana que ele construiu na floresta, visando ficar longe da civilização moderna.

Por todo a sua vida lutou para que seus leitores fossem corajosos diante de certas verdades da vida, tivessem vidas mais ricas, ponderadas e felizes, pois ele encarava a filosofia como um mero exercício acadêmico; ele a via como uma forma de terapia, a maneira dos gregos.

Na sua escrita há muitas verdades sobre o significado da vida, dos males do nosso tempo moderno e de algumas opções para se conseguir a liberdade Eis algumas “doenças da alma” que o Heidegger observou:

A GENTE SE ESQUECE DE QUE ESTAMOS VIVOS – Em teoria sabemos que existimos, mas somente em raros momentos (como numa doença, numa caminhada elo campo etc.) nós percebemos a estranheza de tudo, como o fato de estarmos na Paraíba e não no Ceará, porque o mundo é assim do jeito que é, de a Terra girar sozinho no recanto de uma galáxia distante.. Esse é o “mistério do ser” que Heidegger enfatiza, mas o mundo moderno, que ele chama de “máquina infernal”, teima em nos distrair com tarefas práticas, com o excesso de informações, suprimindo o silêncio, em parte porque esse mistério do ser tem uns aspectos assustadores. Para ele, boa parte das distrações da vida cotidiana são inventadas para suprimir o medo que podemos sentir se ficarmos cientes de que tudo que achamos enraizado e importante pode ser contingente e sem sentido verdadeiro; nossa imparável vida cotidiana pode ser uma maneira de evitar perguntas do tipo, por que temos esse emprego e não aquele, casamos com esta pessoa e não com outra, por que estamos vivos e não mortos? etc. A questão é que, com essas atitudes, sempre estamos fugindo do confronto contra o NADA (das Nichts), aquilo que está do outro lado do ser. Para ele, o Nada está em toda parte, vive nos perseguindo diariamente e um dia irá nos engolir; e a vida só será bem vivida se aceitarmos o Nada e a natureza breve do Ser como, por exemplo, quando a escuridão chega numa bela praia do Nordeste no fim de um dia ensolarado e de muita cerveja.

TODOS OS SERES ESTÃO CONECTADOS E NÃO NOS LEMBRAMOS DISSO – Nós costumamos olhar o mundo sob o prisma dos nossos interesses particulares, tratamos as pessoas como meios e nunca como fins, estamos destruindo a natureza por dinheiro. Em raros momentos (como numa caminhada pelo campo) podemos sair dessa órbita estreita e termos uma visa macro, e sentirmos a “unidade do ser”, vendo que a nuvem, a pedra, a árvore, o passante, todos existimos e estamos unidos pelo fato básico de ser. Ele pede que estes momentos sejam valorizados como forma de superarmos nossa alienação e egoísmo, que tenhamos uma apreciação mais profunda do tempo que nos resta vivos, antes que o NADA venha nos reclamar para si.

ESQUECEMOS DE SER LIVRES E DE VIVER POR NÓS MESMOS – Ele afirma que somos “lançados ao mundo” no começo da vida, em um meio social específico, repleto de preconceitos, de atitudes rígidas e de necessidades práticas que não foram criadas por nós. Daí porque temos o dever de entender o nosso provincianismo psicológico, social e profissional, elevar-nos acima disso e alcançarmos um ponto de vista universal visando fazer a jornada da inautenticidade à autenticidade, ou seja, começarmos a viver por nós mesmos. Porém, a realidade, quase todo mundo fracassa nesta tarefa e, no máximo, chegamos a um modo superficial e socializado do ser. Assim, só quando percebemos que os outros não poderão nos salvar do NADA paremos de viver por eles, e deixemos de se preocupar …

COSTUMAMOS TRATAR OS OUTROS COMO OBJETOS – Ele nos acusa de muitas vezes de tratarmos as pessoas como “ferramentas” e não como Seres em si. Mas ele aponta uma cura para esse egoísmo: apreciar as grandes obras de arte, porque elas têm o poder de nos afastar de nós mesmos e de nos fazer apreciar a existência independente de outras pessoas e coisas. Essa ideia ele elaborou em meio a uma discussão sobre um quadro de Van Gogh que mostra um par de sapatos de camponês; normalmente não prestamos atenção em um par de sapatos, mas quando aparecem numa obra de arte ficamos propensos a nota-los como se fosse à primeira vez (o mesmo acontece quando somos confrontados com outras partes do mundo artificial ou natural representadas pelos grandes artistas). Assim, a arte tem essa capacidade de sentir um novo cuidado pelo Ser que está além de nós.

Penso que somente a leitura e a reflexão pode nos trazer mudanças em aspectos de nossas vidas que não estão legais, mas que não percebemos devido ao “burburinho” da nossa existência diária. Fazemos tantas coisas que não temos tempo de pensar em nós, no nosso SER que está a todo tempo lutando para não sucumbir precocemente diante do NADA. Daí porque chegou a hora de chacoalharmos nossos valores, muitas vezes baseados na ambição e nos bens materiais, incorporando outros mais sensatos, com a força da reflexão de que não viveremos para sempre, de que amanhã poderá ser o nosso último dia sob o sol picuiense.

Alisson Pinheiro

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