PICUÍ É A TERRA DO MINÉRIO?
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O tempo modifica tudo. A pecuária foi o motivo econômico que possibilitou a vinda dos nossos antepassados para a terra picuiense; depois veio o algodão que perdurou por uns duzentos anos e também o sisal, por apenas algumas décadas. Há pouco mais de um século a riqueza do minério é a grande novidade. Se durante o período colonial só se pensava no ouro e nas pedras preciosas, o advento da industrialização mudou o foco para o interesse em minerais destinados à fabricação de máquinas, equipamentos e insumos químicos.
O governo imperial impulsionou pesquisas mineralógicas, mas as leis estaduais regulando a exploração de nossos minerais só apareceram em 1899. Nessa época o engenheiro francês Jules Destord saiu pelo Estado mapeando nossas jazidas, e o resultado de suas pesquisas saiu num relatório em que o potencial mineralógico de Picuí foi destacado. Antes disso, o engenheiro de minas Francisco Retumba fez um estudo sobre o potencial econômico da província; ele passou por Pedra Lavrada e teve o trabalho de copiar com perfeição os caracteres da inscrição rupestre no sítio Cantagalo, em Pedra Lavrada, cuja fama espalhou-se pelo mundo.
Com a riqueza mineralógica picuiense desvendada, os exploradores até que demoraram a chegar. Abílio Cesar conta que o pioneiro na mineração em grande escala na região foi o campinense Manoel Monteiro que, entre 1918 a 1920, andou escavando na região de “Pedra Branca”, local que hoje pertence a Pedra Lavrada. Ele divulgou a descoberta do valorizado minério de cobre neste terreno, fato que gerou muita expectativa, depois desmentida pelo acurado estudo do engenheiro Paulo Rolff publicado em 1946. Se o cobre não existia, estas escavações pioneiras revelaram a existência de columbita, berilo e mica, minerais já valorizados.
Nas proximidades de Picuí, a primeira jazida aberta foi no antigo alto do “Umbuzeiro cabeludo”, também chamado de “Cruz do Besouro”, porque foi neste lugar que houve o primeiro mártir da mineração, o popular Manoel Besouro. Neste “alto” consta que foram encontrados estanho e turmalinas. Vicente Ferreira de Macedo, barbeiro que foi seduzido pelo garimpo, começou uma exploração neste local pioneiro e prosperou na atividade.
Mas o auge da mineração veio com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, devido à ocupação das fontes tradicionais de minérios estratégicos pelas potências fascistas. Chegaram especialistas americanos em Picuí e ensinaram aos nossos pais e avós como localizar os “seixos” de melhor valor comercial. Terras que antes eram desprezadas por serem de “tabuleiros” tornaram-se alvo de disputas acirradas. Como as catagens não eram suficientes, começaram a cavar o solo e toda uma estrutura mineradora foi sendo construída. Minha mãe contava que ela mesma saía procurando os pedregulhos valiosos sempre com êxito. Na terra dos meus avós está situado o famoso “túnel dos americanos”, como lembrança indelével daqueles tempos movimentados e difíceis para a humanidade.
Logo, muita gente até então acostumada com a agricultura tornou-se garimpeira, trocando a enxada pela bateia. A “febre” dos minérios era tamanha que até um prefeito nomeado, o interventor José Maurício da Costa, abdicou dos seus afazeres administrativos para se dedicar inteiramente à mineração !! Era a “febre dos minérios” que atacou a muita gente.
Na atualidade a mineração tem gerado uma expectativa que se assemelha a uma loteria, depois que veio a fama mundial da raríssima turmalina Paraíba, somente encontrada em terras seridoenses. Encontrar esta valiosa turmalina tornou-se objeto de consumo dos endinheirados do planeta, e grifes afamadas comercializam a famosa pedra por preços superiores aos dos diamantes.
O fato é que a mineração deixou os nomes de Picuí e de Pedra Lavrada conhecidos no mundo todo. Eu mesmo vi com meus olhos estes epítetos familiares em amostras de rochas nos Museus de História Natural de Londres e de Nova Iorque. Contudo, há grandes problemas gerados pela atividade mineradora com os sabidos impactos ambientais, sociais e na saúde dos seridoenses de Picuí e Alhures. Além do mais, quando uma economia depende excessivamente de atividades extrativistas ela não consegue se fortalecer.
Picuí tem um dinamismo próprio com sua turbinada área terciária, mas certamente o desenvolvimento pleno só virá quando os seus preciosos minérios forem processados aqui. Enquanto isso não acontecer “o ouro será do outro, e o amargo é o que sobrará para nós”.
Álisson Pinheiro