TODOS OS CAMINHOS PASSAM POR PICUÍ

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TODOS OS CAMINHOS PASSAM POR PICUÍ

Nenhum homem jamais se perdeu em uma estrada reta

(Abraham Lincoln)

Picuí nasceu devido a sua posição privilegiada, parada importante de uma estrada por onde passavam tropeiros provenientes majoritariamente do Rio Grande do Norte que iam buscar mercadorias e produtos alimentícios no Brejo Paraibano. Além da localização perfeita, no nosso belo pedaço de rio existiam a cacimba da Maricota, árvores frondosas para descanso e, provavelmente, alguma sobra da produção agrícola que era comercializada com os viajantes.

O aumento da população fez com que o Brejo Paraibano se firmasse como celeiro agrícola; a necessidade falou mais alto e caminhos de terra fora sendo estruturados, permitindo o escoamento da produção curraleira e o abastecimento de produtos alimentícios raros no sertão, como rapadura, farinha de mandioca e fruta, mas também cachaça, ferramentas e produtos de uso pessoal que chegavam do Recife, a partir de Areia, a cidade mais desenvolvida da época.

No princípio eram os leitos dos rios que serviam para a locomoção entre localidades e fazendas. Todo e qualquer rio possuiu a sua “estrada de ribeira”, um caminho que seguia de perto o curso d’água, podendo se desenvolver ora por uma ora pela outra margem. Raríssimas cidades antigas do Brasil não são banhadas por um rio, cujas orlas serviam para as comunicações, para a edificação de currais, casas de moradia e para delimitar as propriedades, pois as sesmarias concedidas tinham seus limites físicos fincados nos rios, em um tempo que inexistia o arame farpado.

Mas não pensem que os antigos caminhos eram fáceis de percorrer. Na mesma época da consolidação da estrada ligando Picuí ao Brejo, um inglês chamado Henry Koster esteve na Paraíba e no interior do Rio Grande do Norte entre os anos 1809 e 1815. Ele descreveu que nos nossos caminhos “os matos que margeiam as veredas e as estradas são espessos e solapados, que se tornam impraticáveis, mesmo para um homem a pé, a menos que não leve consigo uma foice e um machadinho com que possa abrir o caminho vencendo os obstáculos que se lhe oponham a passagem. ”

Sabiniano Maia, no livro Caminhos da Paraíba, nos conta que nessa época os caminhos e estradas tinham significados distintos: os caminhos tinham, em média, dois metros de largura, enquanto que as estradas iam até três metros e meio. Estas veredas eram tão apertadas e íngremes que os carros de bois tinham dificuldade para trafegar neles. Portanto, ambos eram muito estreitos, sendo preciso uma manutenção constante pelos transeuntes para que a vegetação não avançasse.

Tivemos que esperar a chegada dos automóveis na década de 1910 para que as estradas se tornassem mais largas. Por pouco não ganhamos a estrada de ferro durante a República Velha. Contudo, mais de dois séculos se passaram e Picuí se mantém numa posição ímpar em termos geográficos, com localização mais do que boa, como demonstra o intenso fluxo de veículos automotores em qualquer hora do dia na Rua 24 de Novembro.

Assim, a excelente localização picuiense e a fertilidade do Brejo Paraibano ditaram o nosso crescimento populacional. Esse fluxo de tropeiros indo e vindo buscar mantimentos foi determinante para que surgisse um aglomerado de casas nas proximidades da Maricota, o núcleo primitivo que já tornou Picuí grande no ato de sua fundação oficial. É por isso que todos os caminhos não só levam a Picuí, mas passam por lá !!

Alisson Pinheiro

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