Jesus nos fala do Amor

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A boa notícia que a Liturgia deste VI Domingo da Páscoa, tão rico em ensinamentos nos anuncia e nos convida a celebrar e a viver com alegria é o amor.

A palavra amor se situa nesta liturgia numa perspectiva completamente diversa daquela à qual estamos acostumados, somos convidados ao mais elevado relacionamento possível de alcançar: a amizade com Deus.

Continuamos celebrando a plenitude do Amor de Deus pela humanidade, expressado e comunicado a nós em seu Filho, morto e ressuscitado. Daí nasce o mandamento de Jesus anunciado hoje no evangelho (cf. Jo 15,9-17). “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (v. 12). Este amor divino forma os discípulos numa relação totalmente nova com o Mestre: a relação de amizade: “Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando” (v. 14). Esta nova situação conduz à alegria: “Eu vos disse isto, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena” (v. 11).

Jesus promete a alegria aos seus discípulos, quando está prestes a começar o sacrifício da cruz, a sua paixão e morte. Estas palavras, pronunciadas por Ele numa conversa à mesa daquela última ceia, resumem toda a mensagem de Jesus, tudo o que Ele fez: Cristo deu a vida pelos seus amigos. Amigos que não o compreendiam, que no momento crucial o abandonaram, traíram-no e negaram-no. Isto diz-nos que Ele nos ama mesmo se nós não merecemos o seu amor: assim nos ama Jesus!

Para que permanecer no seu amor? Para que guardar os seus mandamentos? Para que a gente amar? Para termos alegria. Amemo-nos, pois, para sermos alegres. O cristianismo deveria ser a religião da alegria de amar, de conhecer a Deus, que é Amor e entrar em comunhão como o Amor que dá sentido à vida.

A grande novidade do mandamento de Jesus está no fato de que “não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou” (1Jo 4,10) primeiro, “assim como eu vos amei”. Portanto, o seu mandamento não é um simples preceito, abstrato ou exterior em relação à vida. Trata-se de um caminho concreto, uma via que nos leva a sair de nós mesmos para ir ao encontro dos outros. Jesus mostrou que o Amor de Deus se concretiza no amor ao próximo. Os dois caminham juntos nesta via do amor.

Se nos primórdios do cristianismo, os não crentes ao se referir aos cristãos diziam: “Vede como eles se amam e como estão dispostos a morrer um pelo outro” (Tertuliano), nos nossos dias, numa sociedade

tão tristemente secularizada, este Amor deveria brilhar de modo a atrair aqueles que não têem fé ou se afastaram da Igreja. “É precisamente o amor de Cristo, que o Espírito Santo derrama nos nossos corações, que realiza todos os dias prodígios na Igreja e no mundo. São tantos pequenos e grandes gestos que obedecem ao mandamento do Senhor… gestos pequenos, de todos os dias, gestos de proximidade a um idoso, a um doente, a uma pessoa sozinha e em dificuldade, sem casa, sem trabalho, rejeitada… Graças à força desta Palavra de Cristo, cada um de nós pode estar próximo do irmão e da irmã que encontra. Gestos de proximidade. Nestes gestos manifesta-se o Amor que Cristo nos ensinou” (Papa Francisco).

Em nossa sociedade contemporânea os laços de afeto e amizade são tão frágeis! Não obstante tantos meios para comunicar-se há ainda muita solidão e, ao mesmo tempo, vivemos cada vez mais preocupados com a defesa de nosso bem estar pessoal. Os laços de afeto entre as pessoas baseados somente no amor humano não são estáveis e facilmente se deterioram e se rompem. Parece cada vez mais difícil vincular-se com relações permanentes, ”por toda a vida”. Só o amor desinteressado que vem de Deus por meio de Jesus ressuscitado pode ajudar-nos a romper com o egoísmo que tende à divisão, a separar-nos uns dos outros e ao conflito.

Em sua primeira carta, o Apóstolo João (cf. 1Jo 4,7-10) nos revela a natureza e a fonte deste extraordinário amor: “Caríssimos, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus” (v. 7). O discípulo amado fala aqui de um amor diferente do que normalmente queremos expressar com esta palavra. O amor para nós é um complexo de sentimentos, feito de atração física, desejo, paixão, satisfação… Em geral, amamos algo ou a alguém porque é bom e prazeroso para nós. Deus, em troca, não ama para receber algo senão para dar e dar-se. Assim é como viveu e amou Jesus.

O discípulo amigo de Jesus nos convida a aprofundar mais a qualidade desse amor que não tem sua origem em nós mesmos, mas em Deus. É um amor que provém de uma relação com Deus e com outras pessoas. Portanto, não se trata de um amor puramente humano, que dependa somente de nossa capacidade de amar. É só unidos a Cristo pela fé, que seremos capazes de viver e difundir este amor aos outros. Um amor que, ates de tudo, é serviço aos irmãos e deve animar nossa vida cristã, seja qual for o lugar ou a vocação a que Deus nos chama a viver.

Quem ama com verdadeiro amor não busca ser adorado pelo outro, nem exige reciprocidade. Procura, pelo contrário, ser cuidadoso e servir a todos, sem fazer acepção de pessoas, visando refletir de alguma maneira, nas relações, no dia a dia, o afeto que Cristo manifestou por cada um de nós durante sua vida e sua Paixão.

Peçamos, pois, neste Domingo, a graça de dirigir nosso amor a Deus e ao próximo e tenhamos bem presente em nossos corações o alerta que Bento XVI nos fez em sua encíclica “Caritas in veritate” (Caridade na verdade): “Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada, chegando a significar o oposto do que é realmente.” (CV n. 3)

Por Padre José Assis Pereira