Quem ri por último… ainda é o brasileiro!

Por - em 8 anos atrás 798

Desde que aqui aportou, em nossa terra brazilis os membros da frota do senhor Cabral, quase que intuíram, o que o estadista francês, Charles de Gaulle, séculos a frente viria a traduzir: “O Brasil é um país que não deve ser levado a sério.”

Questionada pelos historiadores, muitos afirmam que tal frase, de uma força preconceituosa descomunal, não seria atribuída ao famoso general, mas sim ao jornalista Luiz Edgar de Andrade, na época correspondente do Jornal do Brasil, em Paris.

O fato é que se olharmos pelo prisma do humor, de Gaulle poderia sim ter dito tal afirmação, já que sobre a própria França o mesmo foi ainda muito mais afiado “Como se pode governar um país que tem 246 espécies de queijo?”

Não levar o Brasil a sério desde o seu descobrimento deveria sim ser lei magna a prevalecer até os tempos atuais. Uma forma de sobrevivência, diria! Diante das tais vergonhas nuas, aqui descritas pelo fidalgo Pero Vaz de Caminha naquele ano de 1500, uma roupa nunca nos coube, a do pudor, a de assumir o que somos, ou o que nos tornamos!

Afinal, quem realmente somos? Nem raça definida temos?! Como já disse o poeta Jorge Mautner, somos simplesmente um povo amalgamado, onde não sabemos definir onde acaba uma influência e onde inicia outra.

A expressão ‘Povo brasileiro’ talvez seja a síntese mais aproximada para definir o que a nossa pretérita miscigenação nos deixou como herança cultural.

Não possuímos o charme hipócrita da burguesia europeia, que quando aqui aportou preferia os batuques e o contratempo dos negros, a se sujeitar à representação simbólica da felicidade nos salões imperiais coreografada através dos passos do minueto.

Aprendemos a ser malandros por natureza, pois para adaptar-se às diferenças de uma nação tão plural foi preciso jogo de cintura, agregando o que não tínhamos, como forma de impormos o nosso olhar. Daí o amálgama.

O que talvez como pátria colonizada diante dos seus exploradores, muito além do ouro que daqui foi levado, nos roubaram, foi a autoestima, permutada por um conceito de serventia incomum, de um Brasil que só diz sim para o que nos soa estrangeiro.

Em contraponto aprendemos a rir, e nos redescobrirmos como ‘eternos bonachões’. Rimos do que é bom e do que é ruim. Rimos desta imagem de narciso às avessas que construímos em nosso inconsciente.

Se não aprendemos a cultivar o amor ufanista de outras pátrias, aprendemos a colher o bom humor nosso de cada dia, frutos das nossas experiências.

E hoje, onde mais de 200 milhões de brasileiros se dividem numa refrega bipolar/partidária, agarrando seus heróis e enxotando os seus vilões, o que nos resta? Uma nação triste, rancorosa, com uma ferida aberta, vivendo a anomalia de não nos enxergarmos mais como amigos, parceiros, brasileiros.

Parece que apenas cegamos para a única fronteira que nos tornava únicos, brasileiros, um povo singular por tantas diferenças harmônicas , e em seu lugar o que existe é  uma profunda vala, que nem mais o cândido discurso de pacificação atual irá aplacar.

Para viver neste país, é bom lembrar que a ética nunca foi o nosso forte, afinal sempre temos um ‘jeitinho’ que nos ajuda a ser mais brasileiros. A democracia como sempre utópica, é “sopa rala” a tapear a fome de liberdade.

Agora, meu humor de cada dia, esse ninguém me rouba. A tristeza o rancor e as cicatrizes, aproveitando o espírito olímpico, ‘atocha’ em quem plantou.

*Ribamildo Bezerra – Jornalista