Trump, Musk e o capitalismo de compadrio

Por Filipe Campante/NEXO JORNAL LTDA - em 18 minutos atrás 4

Por Filipe Campante/NEXO JORNAL LTDAFilipe Campante

Briga entre presidente e seu ex-melhor amigo e patrono ajuda a ilustrar os custos do capitalismo de compadrio, onde o sucesso econômico depende das conexões políticas

As coisas mudam rápido na América Trumpista, e pode ser que, quando você esteja lendo este artigo, o presidente e seu ex-melhor amigo e patrono, o centibilionário Elon Musk, já tenham feito as pazes. Mas a estrepitosa briga entre os dois sublinhou, uma vez mais, o deplorável estado de coisas na combalidíssima democracia-mais-antiga-do-mundo — que talvez já não mais o seja.

Não é normal que o psicodrama entre dois indivíduos com evidentes desordens de corte narcisístico seja um tema central da política de um país como os EUA. Mas a anormalidade é hoje em dia cotidiana por aqui, sintoma de um cenário institucional profundamente doente.

A briga simboliza dois eixos dessa enfermidade. De um lado, temos o avanço autoritário de um presidente personalista, que demanda lealdade total e absoluta de todos os que o cercam. A despeito de uma série de divergências internas na sua base de apoio em relação ao projeto canhestramente intitulado “One Big Beautiful Bill Act”, Donald Trump segue no afã de aprovar um pacote orçamentário de devastação fiscal e cortes draconianos. Os republicanos na Câmara dos Representantes, em total subserviência, já aprovaram o pacote, e Trump exige o mesmo do partido no Senado.

Do outro lado, temos o poder completamente desenfreado do dinheiro na política americana. Elon Musk, com sua incalculável fortuna, decidiu dedicar um volume inaudito de seus quase ilimitados recursos — para não falar do seu controle pessoal sobre uma plataforma de mídia social da dimensão do X/Twitter — para eleger Trump. Foi recompensado com um papel completamente sem precedentes para um indivíduo sem posto oficial no governo, com o (também canhestramente designado) Doge (Departamento de Eficiência Governamental), sob sua liderança, tendo essencialmente carta branca para dinamitar as estruturas do governo federal norte-americano.

O autoritarismo e o poderio oligárquico colidiram agora, quando Musk, após ter oficialmente deixado seu papel no governo, divergiu ruidosamente do projeto-chave de Trump, chamando-o publicamente de “monstruosidade”, ostensivamente por conta dos efeitos explosivos prognosticados para o deficit público.

Filipe Campanteé Bloomberg Distinguished Associate Professor na Johns Hopkins University.

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