Reflexão sobre o Natal
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A grande dificuldade de medir o impacto da movimentação do comércio na época do Natal são as estatísticas que parecem, em princípio, incompatíveis com o tamanho de nossa economia.
Segundo pesquisa da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas e pelo Serviço de Proteção ao Crédito, as aquisições devem injetar cerca de R$ 53,4 bilhões na economia. Os dados sobre as compras de Natal no país são apenas estimativas e o tamanho da amostra é muito pequeno, pois foram entrevistadas apenas 761 pessoas nas 27 capitais. O cálculo tem por base que 110 milhões de brasileiros presenteiem entre quatro e cinco pessoas, numa média de R$ 116 por unidade.
A primeira pergunta é: e os outros 100 milhões de brasileiros vão receber ou dar algum presente?
O Produto Interno Bruto do Brasil em 2018 é estimado em algo como R$ 6 trilhões. Assim, as vendas natalinas representariam apenas 0,89% do PIB do ano. Já nos Estados Unidos são esperadas vendas da ordem 5,56% do PIB.
Evidentemente que há de se levar em conta que são economias muito diferentes: nos Estados Unidos – uma economia seis vezes maior que a nossa, segundo o FMI, e não estar em crise – o desemprego é menor que 4% e no Brasil é superior a 12%; a expectativa de crescimento do nosso PIB é de 1,4% em 2018 e nos Estados Unidos se espera algo na faixa próxima a 4%.
Mas, feito o registro, por hoje, chega da chateação dos números! O Natal não é só isso. Os aspectos mercantis são apenas a ponta do iceberg que envolve a efeméride.
O Natal é um instante importante de meditação de todo ser humano e, principalmente, para os homens públicos e as pessoas como os economistas, por profissão obrigadas a lidar com números. Para os que não se sujeitam integralmente aos princípios ditados pelo mercado e seus respectivos valores – na matemática e na estatística – este momento conduz a considerar a desumanização crescente que assistimos num mundo tão desigual e omisso na valorização das potencialidades das pessoas e que tenham no seu bem-estar o interesse prioritário.
Os números são, evidentemente, importantes, mas não revelam a extensão de fenômenos que não deveriam consistir apenas na compra e na troca de presentes para os próximos e aos que nos são caros.
Afinal, o que é Natal, qual o seu real significado? Uma celebração cristã para comemorar a vinda do Cristo Jesus, ou uma festa que envolve um forte cunho comercial, construção falsa da felicidade erguida sobre bens materiais, na cruel troca de valores que gera, por vezes, ansiedade, tristeza, depressão?
Ansiedade pela expectativa do que comprar e pelo que se vai receber. Tristeza por não atingir os próprios desígnios, por falta de meios para adquirir o pretendido. Depressão, por se sentir só, excluído do convívio social, os esquecidos que fazem parte dos 100 milhões de brasileiros que não darão nem receberão qualquer tipo de presente, os penalizados pelas injustiças sociais. Pesquisa do IPEA estima que no Brasil existem mais de cem mil pessoas morando nas ruas.
“Estatísticas da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), indicam que no mundo existiam, em 2017, aproximadamente 820 milhões de pessoas subalimentadas. Dados divulgados recentemente pela FAO e um grupo de agências da ONU revelam que o combate à fome no Brasil sofreu estagnação.
A entidade estima que em 2017 havia “menos de 5,2 milhões” de brasileiros passando fome, uma mudança marginal em comparação aos números que vinham sendo apresentados nos últimos anos.” (Do nosso comentário em 14 de novembro passado). Esses indivíduos estão sendo lembrados neste Natal?
Ao invés de apenas nos preocuparmos com o que comprar e o que desejamos receber de parentes e amigos, vamos alterar a ordem das coisas e pôr em prática um exercício novo?
O Cristo é de fácil acesso. Quer conversar com Ele? Ele está esperando por isso. Reflita e tome uma atitude.
Com toda convicção, com toda certeza, sem medo de errar, perceberemos que o melhor presente que o Menino deseja é que você presenteie os outros. A sugestão de Jesus será, certamente, que o presente de Natal para os seus familiares e amigos tenha – sugiro – algo como o valor material de um grão de mostarda. Para quem dispõe de muitos bens materiais, um sorriso, um abraço, já são ótimos presentes.
Que as doações restantes, e mais significativas, impossíveis de se lhes atribuir um valor concreto, sejam distribuídas às pessoas na medida de suas necessidades, sob a forma de amor, de solidariedade, tanto para os nossos como, essencialmente, para com os que sofrem por fome, frio e abandono, ignorados por nós nos caminhos que percorremos diariamente, sem ao menos baixar os olhos para vê-los.
Feito isso, as coisas se inverterão. Ao invés de cantarmos os parabéns para Aquele que veio e está, ouviremos sua voz Divina a entoar:
PARABÉNS PRA VOCÊ meu bom irmão, homem de coração como o meu.
Por Arlindo Almeida