Voto e consequências

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Os atos humanos têm consequências. Com efeito, no mundo das relações humanas e sociais, os atos praticados por pessoas, grupos, coletividade, sempre têm repercussão, de maior ou menor significação, de curto, médio e longo prazos. Via de regra, não há uma convergência em torno da natureza desses atos em relação a sua etiologia, a sua compreensão e as suas consequências. Na verdade, nesse campo, nada é neutro, nada é indiferente. Um ato bom ou pernicioso, praticado por uma pessoa, pode falar muito a outra pessoa ou à coletividade. Assim, o óbolo da viúva pobre falou muito a Jesus que observava as pessoas que faziam suas doações no Tesouro do Templo de Jerusalém (cf. Mc 12, 41-44). A traição de Judas teve grande repercussão em razão de sua consequência. Atos praticados por grupos, igualmente, podem estar na categoria de bons ou perniciosos. Hoje, em muitas cidades, é comum encontrar grupos de pessoas que, à noite, alimentam os moradores de ruas; enquanto isso, há outros que assassinam, friamente, pessoas que dormem nas praças e calçadas. A coletividade, da mesma forma, assume posições edificantes, como aconteceu em relação a Jesus, em sua acolhida festiva em Jerusalém – Liturgia do Domingo de Ramos (cf. Lc 19, 28-38); pode adotar atitudes perniciosas, como no julgamento de Jesus (cf. Lc 23, 1-12). Por serem de ordem diversa, os atos individuais e coletivos têm consequências diversas.

Sob o aspecto filosófico, os atos humanos, individuais ou coletivos, precisam ser lidos na ótica da relação entre causa e efeito. Os eleitores brasileiros comparecem às urnas para votar em candidatos a prefeito e vereador em todos os municípios. São “144.088.912 eleitores aptos a votar”, conforme dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). É uma coletividade expressiva, levando-se em consideração a população brasileira, estimada em 206.081.432 habitantes, conforme o mesmo Instituto. O acerto ou o erro da escolha do eleitor, no ato de votar, tem consequências para seu município, para seu estado e para o Brasil. Portanto, o eleitor precisa ter consciência de que o voto é seu, na sua condição de sujeito de direitos; todavia, não pode deixar de considerar a dimensão social de seu voto. Com essa finalidade, a CNBB, por meio da Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato, o Centro Nacional de Fé e Política (Cefep), a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP) e o Conselho Nacional do Laicato (CNLB), lançou a cartilha “Eleições municipais 2016: Resgatar a dignidade da política”.

No ato de votar, cada eleitor deve ter presente na sua mente e no seu coração o retrato da corrupção no Brasil, retocado, com muita rapidez, e sempre mais enegrecido, pela “Operação Lava Jato”. A corrupção é concebida por mentes perniciosas, elaborada em gabinetes sofisticados, por pessoas inescrupulosas. O eleitor não pode esquecer que está no município o desaguadouro da corrupção – a estrada mal feita, o calçamento que não foi feito, a ponte que caiu, o hospital fechado, a escola sem professor e tantos outros males sociais. A corrupção está diretamente relacionada com o processo eleitoral brasileiro. Na Bula “O Rosto da Misericórdia”, o Papa Francisco convida as “pessoas defensoras ou cúmplices da corrupção” a se colocarem diante da misericórdia de Deus, em busca da conversão, diante de sua prática de vida. Em relação à corrupção, as palavras do Papa são contundentes: “Esta praga apodrecida da sociedade é um pecado grave que brada aos céus, porque mina as próprias bases da vida pessoal e social”. O seu voto tem consequências, lembra a CNBB.

Dom Genival Saraiva