Seca gera desespero em 203 municípios do Estado

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A dificuldade por água de qualidade, sobretudo nas comunidades rurais da Paraíba causa desespero aos milhares de moradores das 203 cidades em situação de emergência. Afetados pela seca severa, eles esperam por chuvas para diminuir os problemas. Para minimizar os efeitos da estiagem, oferecer condições de convivência com a seca e universalizar o acesso à água, uma das principais alternativas tem sido a inserção de tecnologias sociais no campo, mas não há um programa de gestão eficiente que garanta água para encher os reservatórios e facilitar a vida das pessoas. 

Todos os dias, ao sair à porta de sua casa, com um balde na mão para buscar água em uma cisterna que fica há cerca de 400 metros, Maria Aparecida, se depara com a frustração de ter uma cisterna e não ter condições de colocar água.  “Eu fiquei muito feliz em receber a cisterna que foi colocada na minha porta, mas ainda não tem água nela. Espero que chova para armazenar. Por enquanto, eu ainda carrego água na cabeça, da cisterna comunitária, onde o caminhão-pipa abastece duas vezes por semana. Se tivesse condições financeiras, eu compraria uma carrada de água para botar na cisterna de `plástico´, mas custa R$180 e só ganho um salário mínimo. Seria muito mais fácil para mim e para as outras pessoas que receberam as cisternas, se o carro-pipa abastecesse nossas cisternas também”, comentou.

Na cidade de Areial, que é uma das 21 localidades em colapso na Paraíba, 293 famílias foram beneficiadas com a aquisição de cisternas, sendo que 174 receberão em uma segunda etapa do programa. Nenhuma delas ainda conta com água nas cisternas de polietileno. “Não vejo a hora de chover ou que os governantes resolvam mandar colocar água na cisterna. Todo dia preciso pegar um galão e sair da minha casa em busca de água em uma cisterna mais distante, tendo uma na minha porta. Esperar por chuva é uma coisa incerta, porque pelas previsões, não chove tão cedo”, desabafou o agricultor  dos Santos, 45. 

Essa também é a rotina da agricultora Ana Maria dos Santos, que carrega latas de água na cabeça, tendo a cisterna na porta de casa,  e a de milhares de outros paraibanos. A presidente da Comissão de Fiscalização do programa através do Departamento de Obras Contra a Seca (Dnocs), Maria de Lourdes Barbosa, diz que embora a finalidade das cisternas seja captar água em períodos de chuvas, em uma situação de necessidade, como o agravamento da estiagem em que não possibilitou o armazenamento, é possível abastecer os equipamentos com água de carros-pipa em caso de urgência. “Em alguns lugares, já existem casos em que as cisternas estão sendo abastecidas assim. Não é o recomendado, porque elas não foram destinadas para isso, mas pode ser feito, sem nenhum problema. Acontece que cabe ao município gerir isso, de acordo com suas necessidades e  condições”, disse.

Não há recursos 

O prefeito Cícero Pedro `Meda´ de Almeida, conta que, para atender as necessidades dos moradores, por dia, são distribuídas 12 carradas de água através de sete caminhões-pipa, sendo dois comandados pelo Exército, três gerenciados pelo Governo do Estado e dois pela administração municipal. Ele explica que não há recursos para colocar água nas cisternas recebidas pelos moradores, porque elas não são credenciadas junto aos orgãos responsáveis, como a Defesa Civil Nacional.

“As cisternas são muito importantes e vem para ajudar a avançar no combate contra a seca, mas, por enquanto, é preciso esperar que chova para armazenar água porque o município não dispõe de condições para colocar água em todas elas. Temos as cisternas comunitárias que são cadastradas via Exército, para receber a água e em outros casos, distribuídos em carro-pipa mesmo”, diz.

Enquanto uns possuem cisternas de polietileno vazias, outros moradores dependem exclusivamente dos carros-pipas. É o caso, por exemplo, de quem mora na zona urbana, onde não há nenhum tipo de reservatório para captar água. Em colapso há três meses, os mais de 6,4 mil moradores fazem filas à espera dos caminhões. Outros improvisam o armazenamento em tonéis, bacias e baldes, muitas vezes, sem contar com condições ideais de higiene. “Não temos água nas torneiras e, todos os dias, ficamos esperando que o pipa chegue para pegar água. Quando dá pra fazer uma economia, compramos uma carrada d´água, mas tão carro, que acabamos ficando na dependência do caminhão-pipa da prefeitura e do Exército.  É uma situação difícil, mas não temos outra opção”, disse o aposentado Abel Rufino,77.


Correio da Paraíba

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