‘Aquelas canções do Roberto’ falam por si na volta do ‘Rei’ à cena carioca

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roberto rio jpe“Eu vou tentar dizer cantando tudo que eu gostaria de dizer falando”, avisou Roberto Carlos logo no início do show que trouxe o cantor capixaba de volta aos palcos do Rio de Janeiro (RJ), cidade que o abriga desde os anos 1950. Na verdade, Roberto falou bastante entre as músicas do show apresentado na casa Metropolitan na noite de ontem, 4 de novembro de 2016. Mas o cancioneiro perene e irresistível do compositor falou mais alto. E falou por si só. Tanto que o eterno Rei da canção popular brasileira mais uma vez seduziu os fiéis súditos ao reciclar as mesmas emoções de sempre a reboque da obra construída com o parceiro Erasmo Carlos.

O cantor, diga-se, fez essencialmente o mesmo show que faz há anos. Alterou levemente o roteiro, que nos últimos quatro anos passou a incorporar a derradeira boa canção do Roberto, Esse cara sou eu, lançada em novembro de 2012. Mas a inclusão ou supressão de uma e outra canção mantém inalterado o formato do show regido por Eduardo Lages, maestro do conjunto RC 17. Inalterado também permanece o amor das senhoras brasileiras por Roberto. No show de ontem, as intervenções delas, em voz alta, pontuaram a maioria dos números. “Que saudade, Roberto!”, soltou uma no meio de Outra vez (Isolda, 1977). Umas e outras gritaram frases efusivas em Detalhes (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1971). Juntas, fizeram coro em Como é grande o meu amor por você, na abertura instrumental do show, e repetiram o coro no fim da apresentação assim que a canção de 1967 reapareceu no roteiro na voz do cantor e compositor deste tema tão singelo quanto pueril.

Encorpada pelos metais da banda, a música Ilegal, imoral ou engorda (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1976) – lançada há 40 anos – soou renovada na pulsação dos sopros que evocavam a fase em que Roberto se deixou levar pelos ventos da soul music norte-americana dos anos 1960. Mas os tempos são outros. E Roberto também é outro. Nunca foi inocente, como ressaltou em cena, mas foi ficando conservador. Tanto que, ao cantar ontem o soul Além do horizonte (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1976),  trocou o verso “De que vale o paraíso sem amor?” para “Só vale o paraíso com amor”. Em vez da pergunta, a resposta pronta para fazer a cabeça do público tão ou mais conservador do que o cantor.

Firme nas próprias convicções, o cantor fez Desabafo (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1979), expiou a saudade da mãe em Lady Laura (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1978) e jogou charme para a plateia em Olha (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1975) dois números após ter cantado Nossa Senhora (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1993) no habitual feitio de oração. Essas e outras canções do Roberto continuam falando por ele e por si só através dos tempos.

Aos 75 anos, Roberto Carlos pode já não ter a mesma emissão vocal dos tempos idos. Mas ainda é  senhor cantor. Quando lançou mão de obras-primas como Sua estupidez (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1969) e Se você pensa (Roberto Carlos e Erasmo Carlos, 1968), foi fácil entender poque o Rei permanece no trono há mais de 50 anos. (Cotação: * * * *)

(Crédito da imagem: Roberto Carlos no palco do Metropolitan, em 4 de novembro de 2016, em fotos de Mauro Ferreira)