Quais são os mitos de saúde espalhados pelas redes sociais?

Por - em 6 anos atrás 633

fakeNão repasse a mensagem a seus amigos e familiares. É muito importante -principalmente porque, acompanhada de apelos do tipo, ela tende a ser falsa.
Geralmente em tons alarmistas, as chamadas fake news trazem elementos inusitados e, seja logo de cara ou ao final, pedem que o conteúdo seja passado adiante.

A área da saúde é uma das favoritas. Afinal, é imprescindível saber como se proteger contra um infarto sozinho, qual ingrediente natural poderia curar um câncer ou que chá pode prevenir o surgimento da gripe, certo? Pena que seja tudo mentira.

Abaixo, a reportagem da Folha de S.Paulo checa as notícias falsas enviadas pelos leitores por meio do WhatsApp. Para participar, o número é 11 99490-1649.

1 – Cebolas fatiadas podem evitar gripe e outras doenças, atraindo vírus e bactérias?
Não. A história inventada se passa no ano de 1919, quando a humanidade sofria os efeitos da gripe espanhola, que matou dezenas de milhões em todo o mundo. Ao visitar agricultores (não se sabe onde), um médico (não se sabe quem) teria descoberto um método usado por uma família capaz de prevenir a gripe: cebolas cortadas.

Elas absorveriam os vírus do ar. O tal médico, ao analisar amostras das cebolas apodrecidas no microscópio, teria observado partículas virais.
À época, embora a existência dos vírus fosse conhecida, não era possível observá-los. A primeira imagem só veio em 1940 com o auxílio de um microscópio eletrônico.

Segundo o conhecimento médico vigente, não é possível dizer que cebolas previnem gripe ou outras doenças infecciosas. Elas podem, inclusive, ser foco de propagação de fungos e bactérias ao serem deixadas para apodrecer em temperatura ambiente nos cômodos da casa.

2 – Farinha ajuda a tratar queimaduras?

Não. A mensagem espalhada começa com a história de um veterinário vietnamita que teria tratado uma emergência de maneira inusitada, enfiando uma mão queimada do paciente em um saco de farinha. Dez minutos depois, a dor teria ido embora.

O boato não tem sentido, explica Samuel Mandelbaum, da Sociedade Brasileira de Dermatologia. “Não existe nada que comprove que a farinha ajuda, pelo contrário. Se o local estiver inchado e soltando líquido, a farinha vai grudar e virar uma massa. Quando o médico tiver que fazer a limpeza da lesão no hospital, pode haver dor e sangramento. Melhor deixar a farinha para fazer pizza e macarrão.”

O melhor tratamento é a imersão da região queimada em água fria ou gelada, o que pode até impedir o surgimento das dolorosas bolhas, se for feito rapidamente, além de promover alívio imediato -e não só dez minutos depois.
Também é importante deixar de lado outros produtos como óleo e pasta de dente, diz o médico.

3 – Homeopatia e fígado de boi podem prevenir gripe?
Não.
 Há um rumor de que um determinado remédio homeopático seria capaz de prevenir a infecção pelo vírus da gripe. Mas, como é recorrente na área da homeopatia, não há estudos científicos confiáveis que comprovem o benefício.
Outra mensagem afirma que o diretor do Hospital das Clínicas da USP, sem mencionar seu nome, teria dado algumas dicas para prevenir a gripe: evitar multidões, tomar vitamina C, consumir acerola e laranja e comer fígado de boi.
O próprio hospital já desmentiu a origem do alerta, mas, analisando os fatos, temos que:

1) evitar multidões pode até minimizar a chance de esbarrar com alguma pessoa doente, mas, ainda assim, o vírus pode chegar a qualquer pessoa pelo ar,

2) não há uma relação comprovada entre o consumo de vitamina C e a prevenção de gripe e

3) o bom estado nutricional, com ou sem consumo de fígado, pode ajudar o organismo a lidar com a moléstia.

“O que pode evitar a gripe, e ainda com algumas limitações, é a vacina”, diz a infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas Rosana Richtmann.

4 – Estamos comendo ovos artificiais importados da China?
Não.
 Dois vídeos têm circulado com denúncias de uma suposta invasão de ovos artificiais chineses.

Um deles mostra uma fabricação de “ovos sintéticos” a partir de substâncias gelatinosas que formam uma espécie de geleca. Ou seja, são brinquedos, não parte de um plano de envenenamento em escala global. Outro boato do tipo é o da alface de plástico, usada para fazer mostruários de alimentos no Japão.
Em outro vídeo dos ovos, uma brasileira diz que um ovo que ela adquiriu (de aspecto normal, a julgar pelo vídeo) teria casca muito dura e, por isso, seria chinês e artificial.

A empresa Perfa, cujo logotipo consta na embalagem dos ovos, manifestou-se a respeito em junho em sua página do Facebook: “Apesar de acreditarmos que os consumidores conseguem perceber as inverdades do vídeo, o nome da empresa está sendo exposto de maneira indevida e ilegal”
Por fim, não haveria motivo para falsificar ovos, ao menos não no Brasil, devido à abundância do item em nosso mercado interno e ao baixo custo.

5 – É verdade que pais que não vacinam os filhos podem ser multados?
Sim.
 A vacinação de crianças é obrigação dos pais e, caso não seja cumprida, a família pode ser obrigada a participar de programas sociais, levar multas e até mesmo ter a guarda do filho suspensa.

“O descumprimento tem previsão no ECA [Estatuto da Criança e do Adolescente] de multa”, diz Ricardo de Moraes Cabezón, presidente da comissão de direitos infanto-juvenis da OAB-SP.

Cabezón afirma que, além disso, esse tipo de caso pode ser juridicamente enquadrado como um crime contra a saúde pública, considerando que a criança se torna um vetor de risco.

Mas a previsão legal não é necessariamente refletida no cotidiano. “Nunca soubemos de multa”, diz Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunização.

Adultos também têm que se vacinar contra sarampo durante campanha do governo?”Não exatamente. Uma imagem repassada une duas verdades que, juntas, geram uma mensagem confusa.

A primeira é que, de fato, em breve começa a campanha de vacinação contra o sarampo, de 6 a 31 de agosto em todo o país. Mas ela é direcionada a crianças de 1 a 5 anos e àquelas que deixaram de receber as doses na idade adequada. “São elas que correm mais risco, e a cobertura vacinal na faixa etária está baixa. O ministério precisa fazer uma campanha focada”, diz Isabella Ballalai, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações.

A segunda notícia verdadeira da mensagem é que adultos também podem se vacinar -quem tem até 29 anos tem que tomar duas doses e quem tem até 49, uma -mas não é ideal que o façam durante a campanha. Os adultos que quiserem atualizar as vacinas podem ir aos postos e centros de imunizações em suas operações de rotina.

6 – O Hospital Sírio-Libanês desenvolveu uma vacina contra o câncer de pele e dos rins?
Não exatamente.
 O boato já tem uns bons anos e diz que o hospital teria tecnologia para desenvolver uma vacina terapêutica contra câncer de pele e de rins à base de um pedaço do tumor do próprio paciente. Há, inclusive, telefone de contato e um link que não levam a lugar algum.
Houve, porém, no passado uma pesquisa da qual o Sírio-Libanês participou. Mas, segundo o hospital, “os resultados mostram um grau de atividade limitado, beneficiando temporariamente apenas um pequeno número de pacientes. Até o momento não há evidência de cura que possa ser atribuída a essas vacinas.”

7 – Tossir e respirar fundo pode ajudar durante um ataque cardíaco?
Não. 
O boato sugere que seria possível sobreviver a um infarto fazendo exercícios respiratórios e tossindo. “Isso não tem sentido”, diz Antonio Carlos Carvalho, professor de cardiologia da Universidade Federal de São Paulo. “E, na maioria dos casos, o paciente nem teria tempo ou consciência pra fazer isso.”

“As pessoas têm que se conscientizar de que infarto é uma das condições que mais matam atualmente. Se existe uma falta de ar, uma dor no peito, é preciso procurar um serviço médico o quanto antes para reduzir a chance de ter um evento sombrio”, diz Roberto Kalil Fillho, presidente do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da USP).

Manual para não propagar fake news
– Busque a fonte original
– Faça uma busca na internet: muitos casos já foram desmentidos
– Cheque a data: a “novidade” pode ser antiga
– Leia a notícia inteira
– Cheque o histórico de quem publicou
– Se a notícia não tem fonte, não repasse

Folha