O Cine Íris de Nova Floresta, o irmão do Cine Guarany de Picuí

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Cine Iris de Nova Floresta-PB

Há algum tempo eu escrevi sobre a glória que foi o nosso Cine Guarany, suas histórias e o ambiente feliz que se formou em torno dele, que marcou várias gerações de picuienses.

Na mesma época existiu em Nova Floresta o Cine Íris, de igual efervescência lúdica e cultural, que está tendo a sorte de ter sua memória preservada por meio da escrita maravilhosa de Kydelmir Dantas que publicou recentemente “A História do Cinema em Nova Floresta”.

O fundador do Cine íris, seu Hamilton Marinho, teve a vida desde cedo marcada pelo cinema, pois foi numa sessão do Cine Guarany que ele conheceu Elcy, sua companheira de toda a vida. Tocado pela Sétima Arte e com vocação empreendedora, ele criou o Cine Íris em 1959. De um espaço improvisado no clube social local, evoluiu anos depois para uma sala confortável em um prédio adequado, iniciando uma aventura que tocou na alma de todos os florestenses que o frequentaram até o seu fechamento em 1989.

O autor, também um amante da sétima arte, resgatou histórias dos que vivenciaram o Cine Íris, tão singulares e divertidas quanto as que ocorreram no Cine Guarany.

Uma vez apareceu um falso policial que forçou o fechamento do cinema em plena sessão, para depois ser desmascarado e preso. Em outra ocasião um expectador jurou que viu John Wayne numa esquina da cidade, após escapar da tela enquanto atuava, isto no meio da sessão! Por fim, o filme nunca começava sem que tivesse chegado seu Basto da Barraca, o cinéfilo número 1 de Nova Floresta!!

Cine Guarani de Picuí-PB

De certa forma, o Cine Iris e o Cine Guarany são irmãos, porque o impulso para a criação de ambos foi dado pelo picuiense Rafael Costa (o pai do Ivan Cineminha, aclamado como um dos maiores cinéfilos de todo o mundo). Seu Rafael, com seu cine itinerante, foi o primeiro que trouxe de maneira permanente uma diversão que seduziu os conterrâneos de uma vasta área que começava no Seridó e terminava no alto da Serra de Cuité, abrangendo dois Estados !!

E em ambos havia o prefixo musical, uma música instrumental que servia para abrir as sessões. Se no Cine Guarany ficávamos atentos à hora da entrada com o som da valsa Danúbio Azul, de Johann Strauss, o cine Íris marcava o início da sessão com a música O milionário, versão tocada pela banda Os incríveis. Por isso é que o cinema também influía no bom gosto musical dos seus entusiastas.

A História do Cine Íris tem um enredo único, um conteúdo com capacidade de se tornar imortal, igual aos heróis da telinha. Kydelmir Dantas conseguiu fazer uma síntese primorosa sobre a evolução do cinema que transcende a experiência florestense, porque reuniu testemunhos de pessoas que viveram o cinema na intimidade, tão bem descritos, com detalhes saborosos, que, sozinhos, poderiam reconstituir o dia a dia de nossas cidades no tempo em que ir ver um filme era o maior acontecimento social e a melhor diversão possível.

Todos os fatos narrados ligados a atuação do Cine Íris compreendem um rico material para os pesquisadores do futuro que aprofundarão o conhecimento e o significado do cinema nas cidades pequenas, em especial neste recanto geográfico paraibano onde nascemos. Porém, muito mais do que isso, é um livro agradável de ser ler, desses que divertem e instruem.

Charles Chaplin tinha razão ao afirmar que “num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação”. Assim é que as reações inesperadas (e até hilárias) dos nossos pais e avós diante da tela do cinema foram o resultado do encantamento diante de uma arte que puxava pelo sonho e pela criatividade.

Devido as mudanças revolucionárias que o cinema trouxe nos costumes e na alegria íntima de todos, só podemos concordar com a assertiva de que “o cinema é o espelho e a memória da vida”. Sim, o cinema é tudo isso, mas quando suas histórias vividas são condensadas em um livro primoroso como o escrito por Kydelmir Dantas, com tocantes e divertidas descrições de sua ação no cotidiano das pessoas, o cinema e os filmes se transformam numa experiência completa, uma síntese de todas as artes, como a própria vida.

Alisson Pinheiro

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