Notáveis do Seridó paraibano Silvino de Macedo

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Os fatos que acontecem na vida de alguém determinam o seu destino. A maioria recebe do Criador uma existência comum e previsível, mas para alguns acontecem eventos extraordinários, capazes de atrair finais trágicos e memoráveis que constarão nos livros de História.

Seguindo esse destino, um filho de Picuí se viu submergido em acontecimentos tão relevantes (e fatídicos) que até hoje não foram esquecidos. Seu nome era Silvino Honório de Macedo, nascido na Rua João Pessoa, em 1871.

Sua origem está envolta no infortúnio que foi a escravidão, pois sua mãe, Benta Maria da Conceição, mestiça e escravizada, deu à luz por três vezes pela ação do filho do seu senhor, José Luciano de Macedo, sem que houvesse o reconhecimento legal da prole.

Mesmo tendo nascido numa situação aviltante, Silvino foi criado em liberdade, recebendo carinho e apoio de todos, como demonstram os relatos orais da sua infância (aparentemente) feliz, citados por Abílio César e por Magnólia Suellen em obra recente.

O seu pai mudou-se para Recife, onde fundou uma firma e se casou. Ele só reaparece na vida dos filhos quando promove a vinda deles para perto de si, visando protegê-los da grande Seca de 1877/1879. O flagelo passou, mas Silvino permaneceu em Pernambuco e com onze anos incompletos ingressou na escola de aprendizes de marinheiro.

No século XIX as forças armadas ofereciam algumas das poucas oportunidades de emprego para jovens carentes. A Marinha atraía os mais humildes porque o trabalho lá era duríssimo, com uma tradição de cruéis castigos físicos. Como os voluntários adultos nunca preenchiam as vagas, era comum a admissão de crianças!

Contudo, ele conseguiu se transferir da Marinha para o Exército onde atingiu a patente de sargento. Esta ascensão deve se relacionar com sua base educacional acima da média, como podemos constatar pela bela caligrafia impressa no verso da fotografia concedida a sua madrinha, a mesma que foi utilizada pelo doutor Felipe como prova decisiva da sua ascendência picuiense.

As circunstâncias que o conduziram à morte precoce são bem sabidas; com o advento da República (1889), os dois generais que assumiram o poder foram os alagoanos Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. O primeiro demitiu-se no meio do mandato e Floriano assumiu a presidência de maneira ilegal, pois naquele momento a Constituição exigia a convocação de nova eleição para o cargo.

Essa disputa política dividiu o Brasil, como acontece no presente, sendo que com muito mais violência. Seguiu-se uma luta armada e Silvino, deodorista apaixonado, liderou a tomada da Fortaleza de Santa Cruz, ato que provocou o bombardeio da Capital Federal. A revolta foi sufocada, Silvino foi ferido e preso, mas logo perdoado, uma distinção por sua bravura em combate.

Foi solto e em vez de descansar preferiu novamente se juntar com a oposição armada. Passou um tempo no Sul e em seguida se dirigiu à Recife em missão. Logo que desembarcou foi reconhecido e morto por fuzilamento, após julgamento sumário, tornando-se o último condenado a morte em Pernambuco. De tão arrebatado por suas convicções políticas, ele mesmo conduziu a sua execução.

Foi transformado em herói quase que de imediato, tanto pelos seus atos de bravura quanto pelo fato de pensarem que ele fosse pernambucano (é notório o apreço que os nossos vizinhos possuem por seus mártires).

Quatro décadas mais tarde, Felipe Tiago Gomes, após resgatar a origem picuiense do corajoso sargento, passou a vida robustecendo a sua aura heroica, cujo ápice foi a transferência solene dos seus restos mortais do Recife para Picuí em 1990, onde repousam num arremedo de praça em frente à Rádio Cenecista.

Tinha apenas 24 anos quando foi supliciado, era apenas um garoto idealista que deu a vida por uma ideologia do seu tempo. Até o fim foi perseguido pela sua tragédia racial e social: quando foi convocado pela polícia para esclarecimentos sobre o filho, José Luciano negou sua paternidade.

Alisson Pinheiro

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