CPMI do 8 de Janeiro perde tração no Congresso e é instalada sob receio de governo e oposição

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O Congresso Nacional se prepara para, enfim, instalar na quinta-feira, 25, a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro. A intenção dos trabalhos é de investigar os ataques realizados aos Três Poderes no segundo domingo do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT), quando o Supremo Tribunal Federal (STF), o Senado, a Câmara dos Deputados e o Palácio do Planalto foram invadidos e depredados por manifestantes contrários ao retorno do Partido dos Trabalhadores (PT) ao poder. As cenas e o rastro de destruição foram o estopim para o início da articulação que pudesse resultar na criação de um colegiado que pudesse esclarecer quem orquestrou, insuflou, financiou e atacou o coração do poder. Governistas passaram a acusar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores, enquanto a oposição rebateu com a tese de que a cúpula da gestão petista foi leniente e subestimou o risco de invasão. Ainda que os parlamentares críticos a Lula neguem publicamente, entre idas e vindas, a CPMI perdeu tração e viu o Congresso priorizar a abertura de outras CPIs, como as que vão investigar o escândalo de manipulação de resultados de partidas de futebol e o colegiado que mira o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).

Receios bilaterais

Com acusações e ânimos exaltados, a CPI de 8 de Janeiro deu indícios de que tanto governistas quanto oposicionistas estavam em rota de colisão. No entanto, o tempo e o ambiente político passaram a “contaminar” o campo da CPMI de 8 de Janeiro. O governo não queria dragar a energia do Parlamento e pedia foco no avanço de sua agenda econômica (o arcabouço fiscal e a reforma tributária, principalmente). Por outro lado, a oposição viu na abertura da comissão uma oportunidade de minar a popularidade do governo e desgastar alguns dos principais integrantes da Esplanada, como o ministro da Justiça, Flávio Dino, alvo preferido dos bolsonaristas. A instalação da CPMI se tornou irreversível quando houve o vazamento de imagens de câmeras de segurança mostraram o então ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Gonçalves Dias, caminhando pelo Planalto ao lado dos vândalos. Nas últimas semanas, a base aliada de Lula mudou a estratégia e saiu das cordas com a divulgação de mensagens e documentos que miram nomes de confiança do ex-presidente Jair Bolsonaro, como o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, preso por quase quatro meses, e o ex-ajudante de ordens da Presidência Mauro Cid, preso por suposto envolvimento com um esquema de fraude em cartões de vacinação.

No caso de Torres, diligências da Polícia Federal encontraram em sua casa uma minuta do Ministério da Justiça que previa uma intervenção no Tribunal Superior Eleitoral para que o resultado da eleição presidencial fosse alterado. Meses depois, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro teve seu celular apreendido em uma operação da PF – a quebra do sigilo mostrou conversas com o ex-major Ailton Barros, expulso do Exército, em que se trata de uma tentativa de golpe de Estado, segundo informações da CNN Brasil. O efeito foi imediato. A pressão sobre o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), arrefeceu, os partidos políticos atrasaram a indicação dos parlamentares (até a noite desta sexta-feira, 19, oito nomes ainda estavam em aberto), e a Câmara abriu outras três CPIs – a do MST, das Apostas e das Lojas Americanas. Mais do que isso, o interesse público no assunto também minguou. Dados do Google Trends, ferramenta da plataforma que mostra os mais populares termos buscados em um determinado período, mostra que os termos “CPMI 8 de Janeiro”, “CPMI” e “8 de Janeiro” tiveram uma crescente nas buscas entre os dias 18 e 19 de abril, dia em que as imagens do circuito de segurança do Planalto durante as invasões vieram a público, e submergiram desde o fim do mês, deixando de ser uma prioridade na busca dos usuários da internet .

Redação com JPan

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