Tite Tem até o Qatar para se livrar da dependência de Neymar

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TiteQuatro anos para a Seleção se livrar da dependência de Neymar.

Esta é a principal missão de Tite.

19 dias depois da eliminação do Brasil da Copa da Rússia, nas quartas-de-final, o treinador acertou hoje, de vez a renovação de contrato por mais quatro anos, até o Mundial do Qatar.

Seu empresário, Gilmar Veloz, já havia deixado tudo encaminhado com Rogério Caboclo, o futuro presidente da CBF. Embora assuma o cargo apenas em abril, o dirigente que tem uma ligação umbilical com o banido ex-presidente Marco Polo del Nero, é quem comanda de fato a CBF.

O atual presidente, coronel Antônio Nunes, foi alijado de todo o processo decisório. Só confirmou o que Caboclo e Del Nero queriam.

Há dois motivos para a inédita continuidade de Tite na Seleção, depois da derrota na Copa do Mundo da Rússia. O primeiro é sua respeitabilidade. Não há ninguém no cenário nacional que sirva melhor de escudo para os dirigentes da CBF.

O técnico traz austeridade para uma entidade que teve um presidente que abandonou o cargo, com várias acusações de corrupção, Ricardo Teixeira. O seu sucessor é presidiário nos Estados Unidos, condenado por falcatruas, José Maria Marin. E tem Marco Polo del Nero banido do futebol pela Fifa. A acusação? Corrupção.

O segundo motivo é óbvio. Como os dirigentes da CBF nem pensam em contratar um técnico estrangeiro, não há no cenário nacional nenhum treinador com o perfil tão vitorioso quanto o de Tite. Tanto é verdade que, apesar do fracasso na Rússia, ele não foi atingido diretamente pela imprensa e pela torcida pela derrota.

Só que o treinador admite a sua culpa.

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Tanto que fez questão de tomar uma atitude que supreendeu Caboclo e o secretário-geral da CBF, Walter Feldman. O treinador tomou à frente e garantiu que aceitava os quatro anos, só que não queria aumento. É um novo contrato que será assinado. Ele teria todo o direito de pedir mais dinheiro, R$ 700 mil que recebe a cada 30 dias.

Mas não se sentiu à vontade para pedir mais dinheiro.

Caboclo fez uma exigência para a permanência do treinador. Que ele ‘maneire’ na renovação do elenco. Principalmente nesta primeira competição oficial, a Copa América, que o Brasil sediará, no próximo ano. Uma nova decepção em casa, não seria aceita pela população e imprensa. Tornaria o clima péssimo na CBF. E os dirigentes passariam a ser questionados. Tudo o que Caboclo e Feldman querem é ficarem em paz.

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O coordenador Edu Gaspar seguiu trabalhando depois da Copa. Sinal claro da renovação de Tite. E no relato do que deu errado na Rússia, foi muito questionado, principalmente por Feldman, sobre o comportamento de Neymar. Sobre a dependência absurda da Seleção do jogador do PSG.

Feldman não é ingênuo. Ele viu o que aconteceu com Mano Menezes, Luiz Felipe Scolari, Dunga e com o próprio Tite. Os técnicos que ficaram à mercê de Neymar acabaram pagando caro. E por isso, quer que Tite invista a sério em maneiras de a Seleção não seguir ‘de joelhos’, como repete um amigo de Feldman, diante de Neymar.

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Edu Gaspar deixou cristalino que atualmente não há outro jogador com tanto talento. E que a Seleção ainda vai precisar do camisa 10. Ele acredita que há recuperação para o egocentrismo de Neymar. O coordenador quer convencê-lo não só a jogar pelo time, como também mudar a sua postura.

Na Rússia, Neymar estava criando um clima ruim contra a imprensa nacional e internacional. Apresentava os jornalistas aos jogadores como se todos estivessem contra o Brasil. Guerra que aprendeu com Scolari.

Tite preferia não se envolver. Deixava para os atletas decidirem o que fazer. O que foi um erro. A Seleção criou um ambiente hostil durante o Mundial, com o silêncio dos atletas, as entrevistas obrigatórias com apenas um jogador falando para mais de 300 repórteres, nos dias de preparação.

Vinícius Júnior, Malcon, Arthur, Militão, serão novos nomes que Tite testará na Seleção. Ele quer um grupo que mescle juventude e experiência. Mas que o domine, tenha nas mãos. E com Neymar trabalhando a favor. Mas se, por qualquer circunstância, ele não estiver, a equipe sobreviva sem ele.

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Apelando para a estratégia e dedicação do time.

O perfil do elenco deverá mudar. Atletas mais fortes e altos terão espaço. Seleção de baixinhos talentosos não resolve no futebol moderno.

Cleber Xavier, Matheus Bacchi e o observador Fernando Lázaro já foram aprovados. Ficarão, igualmente, sem aumento. Sylvinho se mostra interessado em trabalhar como treinador. Se surgir uma proposta interessante do futebol europeu, ele pode não voltar.

Agora é na preparação física e médica que Feldman e Caboclo querem resolver um impasse. Durante o Mundial, Fábio Mahseredjian dava treinos intensos e curtos. Danilo cortado, Douglas Costa, Marcelo, Renato Augusto tiveram contusões musculares. O médico Rodrigo Lasmar não concordava com a intensidade dos treinamentos. Ainda mais para atletas que atuavam na Europa, desgastados pelo final de temporada. E Renato Augusto, que na China, treinava muito mais leve.

Douglas Costa. Desperdiçado durante a Copa por contusão durante o treinoDouglas Costa. Desperdiçado durante a Copa por contusão durante o treino

CBF

Tite ficava entre Mahseredjian e Lasmar.

Não será surpresa se um ou até os dois não seguirem.

Tite já deverá voltar a trabalhar na sua sala na CBF a partir da próxima semana. Ele já está planejando o futuro da Seleção Brasileira desde a eliminação contra a Bélgica. Sabia que teria convite para continuar.

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Ele definiu que não será o treinador da Seleção Brasileira na Olimpíada de 2020, em Tóquio. Até porque não há mais a obsessão pela medalha de ouro na CBF. Ela já foi conquistada em 2014.

Tite quer aproveitar os quatro anos que terá pela frente para provar sua teoria. A de que esse tempo é suficiente para criar, desenvolver e amadurecer uma equipe que possa ganhar a Copa de 2022, no Qatar.

Se não há rejeição, não há mais a mesma empolgação com Tite. Seguir  no trabalho representará ter de enfrentar a séria desconfiança da opinião pública.

Principalmente por sua teimosia.

Com Gabriel Jesus, Marcelo, Willian e Paulinho jogadores que não renderam na Copa do Mundo. Mas que seguiram como titulares, protegidos pelo treinador. Velho traço que trouxe do Grêmio de 2002, do Corinthians de 2013. Equipes que haviam conquistado títulos importantes e que mudaram a carreira do técnico. A Copa do Brasil e a Libertadores e o Mundial, nos anos anteriores.

Tite seguiu grato, com voto excessivo de confiança, como aconteceu com o quarteto que foi muito bem durante as Eliminatórias. Mas fracassou no Mundial.

O treinador terá outra dificuldade.

A CBF terá de pagar amistosos ruins para ISE, International Sports Eventes, da Arábia Saudita. Por isso, já em setembro, haverá dois amistosos nos Estados Unidos. Um contra a seleção local, o que é aceitável. Mas outro, absurdo, contra El Salvador. Apenas por dinheiro para a empresa que tem o direito sobre os amistosos até 2022. Comprou do ex-presidente Ricardo Teixeira.

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Tite terá de engolir esses jogos que nada acrescentam.

Mas ele não pode reclamar.

Será o único treinador que fracassou em uma Copa e seguiu.

Se manteve no comando da Seleção Brasileira.

Ele que renove o grupo.

Redação